Bajulação Barata

Puxa-saco é o termo mais popular. Quem um dia nunca se deparou, seja no trabalho, numa festa, na escola, faculdade, enfim, em qualquer lugar com o famoso puxa saco. Então, tenho certeza que todos já tiveram a infelicidade de conhecer um. Há vários tipos dessa mais deplorável forma humana, entretanto, todos com a mesma finalidade.

“Baba-ovo” também é um bom adjetivo. Vangloriar seu superior para que o mesmo lhe note a base da bajulação barata. Essa é uma incrível definição. Olha a sua volta: pode ter certeza que mais perto do que pensa, tem um.

“Corta-jaca”, o mesmo que bajular, lisonjear, adular servilmente, sorrabar, sabujar. E um verbo comum a todos os idiomas. Ou seja, em todo lugar do planeta existe um puxa-saco. Muitos deles nem quer se aparecer para o chefe, mas sim mostrar status para os colegas.

Definição de status: comprar o que você não pode comprar para impressionar quem você não gosta. Há os puxa-sacos que andam mais bem vestidos que o próprio chefe, que às vezes é uma pessoa humilde, mas com muito poder. Os “puxa-sacos” são sempre os incompetentes, baixinhos, barrigudinhos, carecas e, em alguns casos, com cavanhaque.

“Chaleira”, que ainda hoje continua sendo bastante usado pelas repartições deste Brasil. Alguns deles usam óculos, de preferência fundo de garrafa, calça de cor bege escura rajada e uma cinta de pressão. Estes fazem questão de se vestirem mal somente para aparentar piedade, que está precisando ser promovido e ser convidado para o whisky depois do expediente.

“Mamafeq”, é na língua árabe. Não sei como eles se vestem no Oriente Médio, mas posso descrever exatamente como eles agem. “O chefe não está bom hoje, nem tente falar com ele”; “seu patrão não vai poder te atender hoje, nem mostre esse seu trabalho para ele”; “pelo bom tempo que eu conheço nosso chefe, tenho certeza que ele não vai aprovar esse projeto”; “sai da frente que o ele vai passar”. Um tanto quanto familiar, não?

“Leche-botte”, na França. Como lá é uma terra uma pouco mais fria, os puxa sacos devem se vestir um tanto quanto parecido com os brasileiros na época do inverno. Notem que o terno nunca vai combinar com a calça e nem com a camisa, muito menos com a gravata. Ah, a gravata! Esse é o acessório preferido dos “baba-avo”. “Que bela gravata o senhor está hoje”, um comentário assim, como quem não quer nada...

“To flatter”, é bajular em inglês. A mulher puxa-saco é sempre as mais feias da firma. Metidas, narizes empinados, saias tortas com o zíper levemente na lateral e uma tradicional camisa de viscose com alguns babados nas mangas e na gola. Os óculos estilo “gatinho” e a agenda na mão são indispensáveis.

“Chupa-media” é o puxa-saco conhecido em Cuba, no México, na Argentina e na quase totalidade do mundo espanhol. Se eu for tentar procurar todas as traduções desse mala que atormenta o andamento de toda uma empresa, seja ela do que quer que seja, não terei espaço físico para continuar escrevendo. Eu conheço um, e você?

CORDÃO DOS PUXA-SACO

"Iaiá me deixa subir essa ladeira

Eu sou do bloco. mas não pego na

chaleira!

Lá vem o cordão dos puxa-sacos

Dando viva aos seus maiorais

Quem tá na frente é passado para trás

E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta

mais.

Vossa Excelência, Vossa Eminência

Quanta reverência nos cordões eleitorais

Mas se o doutor cair do galho e for ao chão

A turma toda evolui de opinião.

E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta

mais!"[1]

[1] Eratóstenes Frazão e Roberto Martins, gravada em selo Odeon nº 80.0342, lado B, pelo conjunto vocal Anjos do Inferno na década de 60.

Postado por Diego Mendes às 11:54 2 comentários

Diego Mendes
Enviado por Diego Mendes em 24/04/2008
Reeditado em 24/04/2008
Código do texto: T960299