OLHA O BANANA !

Prenderam-no, está preso o Chico Martins, vendedor de bananas a pronta entrega, acusado de desacato, plágio, falsidade ideológica, poluição sonora, tripla tentativa de homicídio. A confusão é fruto do casamento de uma jogada de marketing com uma intervenção política .

Chico Martins na verdade é filho de Graça Martins, dona da maior banca de frutas no Mercado Municipal. Esta senhora aqui chegou por volta de 1960, esposo madeireiro.

Madeira se acabou, seu Tonhão foi-se pra São Paulo e ficou por lá . Ela passou vender frutas nas portas e por fim se estabeleceu num pontinho do mercado. Com tino pra negócio, prosperou, criou os filhos, comprou casa.

Com melhora dos transportes venda de frutas se vulgarizou, gaiolas carregadas pela manhã duma quarta-feira em Juazeiro, ou Luiz Eduardo Magalhães dormem na estrada e acordam quinta-feira nos verdurões da cidade. Os carros de fruta repassam aos vendeiros, donos de mercearias. Três pontos que D. Graça tinha na feira viraram um, bananas ficavam maduras e estragavam, as pessoas não vinham mais ao mercado comprar banana, cambada de preguiçosos !

Eis que um dia a matriarca resolve :

- Chico, vamos contra-atacar.

- Como assim, Mãe ?

- Esses preguiçosos não vêm mais ao mercado, compra-se fruta em tudo que é lugar. Na venda; no sacolão, no verdurão. Vamos agora: Fazer a rota ! Você tá promovido a representante comercial e diretor de logística.

- Ôba, meu salário vai melhorar !

- E ainda tem mais, as bananas maduras que antes nós perdíamos você vai levá-las já no ponto de consumo.

Semana seguinte o diretor de logística e representante comercial, bem constrangido, empurrava um carrinho com pneus de bicicleta, carregado de bananas maduras. Mas tinha jeito de artista e criara um jigle:

- 20 bananas, um real !

- 20 bananas, um real !

Segunda semana, a voz sumiu-se. Aa vendas cairam.

- Chico, Chico, você ta com preguiça, com enrrolação ?

- Não mãe, eu tô rouco, sem voz!

- Valei-nos, Minha Nossa .

Então Chico teve uma idéia genial. Mandou instalar um monofone no seu carrinho, uma bateriazinha. E aí gravou o segundo maior sucesso de Araguaína:

- 20 bananas, um real !

- 20 bananas, um real !

- 20 bananas, um real ! ....

Como as vendas melhoraram muito, segunda gravação :

- 15 bananas, um real !

- 15 bananas, um real !

- 15 bananas, um real !

Com a prosperidade Chico estaciona o carrinho na venda da Tiana, deixando o gravador a plenos pulmões naturalmente..

- Tiana, me dá um Duelo! E do longe... aquele ruído incômodo, se aproximando, como um grande inseto sonoro... se aproximando e, ganhando corpo ... Apurou os ouvidos e escutou...

- Vai passando o sorveteiro, vai passando o sorveteiro, vai passando o sorveteiro. 5 bolas, um real. 5 bolas um real. Traga a vasilha... traga a vasilha... traga a vasilha... Achatou o som do carrinho do Chico.

O Vai Passando o Sorveteiro, foi o precursor no ramo do marketing popular e se dera muito bem, começara com um carrinho e hoje tinha uma sorveteria ambulante. Estacionou sua pik up Fiat 147 ao lado do carrinho de Chico e , com ares de importância chegou-se ao balcão...

- O que é que vai ser, seu Vai Passando o Sorveteiro ? Duelo ou 29 ?

- Tiana, filha, você não me conhece ? Me dê um Drurys que eu não bebo pinga, isso é pra gente desclassificada.

- Um ovinho de codorna ?

Olhou pro Chico que arrochava meia dúzia de ovinhos e sentenciou:

- Tiana, minha filha, você acha que sou Tiu pra comer ovo a estas horas ? Me dê uma carne de sol.

Ara então eu, desclassificado, hein ? Matutava Chico. Sujeitinho ordinário. Sorvete barato assim.... só tendo barata... Sorvete ? Um trem que estraga os dentes. O representante comercial, diretor de marketing de D. Graça saíra muito abatido. Logo ele, que modernizara o negócio das bananas. Tiu desclassificado ? Veria !

Primeira semana espalhara um boato de que sorvete estava causando tuberculose, debalde. Segunda semana, boato desonroso sobre a consorte do sorveteiro. Estava magoado, magoado deveras. Não tanto pelo lado negocial, mercê de Deus, ia bem. O problema era artístico, ele que sempre se achara o tal descobrira-seprojeto ainda não exitoso dum Vai Passando o Sorveteiro. Até que teve uma idéia genial.

Semana seguinte, seu jingle tinha trilha sonora :

- Olha a banana!

- 10 bananas, um real !

- Olha o bananeiro !

- 10 bananas, um real !

- Olha a banana !

- 10 bananas, um real !

- Olha o bananeiro ...

- Que é isso Chico, você tá inflacionando o mercado, disse-lhe o presidente da Câmara dos Vereadores, seu cliente.

- Carlão é o gasto com o Marketing ! Estou investindo em meu negócio.

Prosperou muito, vendia bem. Até fora chamado para dar palestras e algumas entrevistas em televisões. Só não entedia direito aquilo, faziam-lhe 100 perguntas que ele atinava com os miolos pra poder responder e na televisão só saia o reclame :

- 10 bananas, um real !

- O que o Sr acha do cenário frutífero nacional ? Não.

- 10 bananas, um real !

- Donde vêm suas frutas ? Não.

- 10 bananas, um real !

- O Sr. Sabe donde é a uva ? Não

- 10 bananas, um real !

Deus o acudira que ele não virara ainda o “10 Bananas, Um Real “ !

Vai Passando o Sorveteiro foi-se embora, a vida melhorara, já monopolizava a venda de bananas maduras. Tiana agora lhe guardava admiração, ficava absorta vendo-o e ouvindo-o enquanto ele contava-lhe grandes aventuras, naturalmente quiméricas.

Um dia, em casa chega-lhe um Deputado Federal mais um bando de puxa-sacos. Idéia que ele se candidatasse.

- Política, isso não é comigo não, não é bom pros negócios.

- Você tem muita força popular, olha o ‘Doido, não foi eleito ? Olha o presidente ?

Então acertaram com seu ego. O presidente não diria, metalúrgico, muito esperto, morando em São Paulo. Difícil, mas não impossível. Mas o ‘ Doido, tinham razão, perder para o ‘Doido, era demais.

- Meus senhores, meu negócio é banana, vai uma dúzia aí ? Desconversou.

Tanto insistiram que passou a freqüentar os comícios sendo uma espécie de cabo eleitoral silencioso, até vendia bem. Nos comícios vendia unidade, mas quem comesse, lhe entregasse a casca, não permitia poluição.

Os números da coligação subiam nas pesquisas. Ergueram-no e ao seu carrinho, agora ficava no palanque, até falava :

- Agora vamos ouvir o depoimento do Sr. Chico Martins. Responda para nós, quanto é a banana ?

- 10 bananas, um real .Não gostava, era lá papagaio de pirata, pra tirar foto e repetir sempre a mesma coisa.

Vem aí o depoimento de um homem do povo, vamos Chico diga-nos, quanto é a banana ?

- 10 bananas, um real. Sujeitos detestáveis, pensava.

Humilhação máxima receberia do Governador, mas, respondeu à altura:

- Quanto é a banana ein, Sr. Diprimata ?

- Olha O Banana, olha o bananeiro, olha O Banana, olha o bananaeiro ! Cantarolou...

Tomaram-lhe o microfone, Governador pisou-lhe no pé.

Sentia-se meio vingado. Mas um fiscal de plantão que também estava no palanque já aproveitara para lhe extrair multa a apreensão.

- Licença ambiental ? Estudo do Impacto ambiental ? Autorização para execução pública desta musica, tem ?

Mais três perguntas daquele homem e estaria arruinado.

Já estava arruinado.Bem que Mamãe me disse !

Mas então teve aquela idéia... Tirou seu lanchinho da parte inferior do veículo.

Três pacovas monstras : uma banana da terra, uma banana para fritar e uma banana chifre de boi. Arrochara seu lanchinho ali mesmo. E foi saindo de mansinho do palanque, com o auto de apreensão.

No alto do palanque, o governador levara o maior tombo. O prefeito, que acorrera solidário também levou um tombo, e daí a pouco, as três cascas enormes de bananas derrubavam todos no palanque, incrivelmente nenhuma câmera filmou ou fotografou o fato. Chico encontra-se preso, acusado de tripla tentativa de homicídio...

Marconi Barros
Enviado por Marconi Barros em 25/04/2008
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