O NÃO SONHO ACABOU

A grande parte dos sonhos de um moleque é ser um jogador de futebol. Dorme pensando nisso, acorda pensando em bola e nos seus ídolos que, por simples esmero, poderá vir a se equiparar.

Depois da escola, alguns dias da semana são reservados para o futebol. Os que sobram é para as peladas na rua, na área de casa com o irmão e para trocar figurinhas do time favorito. À noite, jogo de futebol na tv. Às vezes, quando a partida está meio enfadonha ou o time está perdendo, é permitido cochilar na no sofá. Ao acordar, seu time havia caído na tabela de classificação.

Na escola, os colegas enchem o saco, dão tapinhas na nuca e chamam seu time de “frouxo”. Pelo meu time, disseram até que eu era um sofredor. Passei grande parte da minha infância tendo que levar esse rótulo. Toda as vezes que me falavam isso, eu imaginava chicotes nas costas, algemas nos tornozelos e muito, muito suor na testa.

Acredito que por esse trauma e pela imaginação fértil eu tenha parado de gostar um pouco de futebol. Eu jogava muito, e bem. Certa vez, até participei da seleção dos melhores jogadores da cidade de Andradas, interior de Minas Gerais. Nos campeonatos da escola, o meu time sempre era um dos finalistas.

Mas, por incrível que pareça, nunca quem estava na minha equipe escolar torcia pelo mesmo time que o meu. E pasmem! Sempre quando havia jogo entre o meu e o dos meus colegas, adivinha quem perdia?

Sem mais delongas, e por pura irritação ou frustração, me separei do futebol e logo fui procurando um novo para minha vida. Médico, advogado, engenheiro... Isso é o de menos... Agora podem caçoar o quanto quiserem de mim, não torcia por nenhum time mesmo. A não ser o Brasil, onde palmeirenses, corintianos, são-paulinos, cruzeirenses e os demais encrenqueiros se uniam para o mesmo ideal.

Mas, mesmo assim, sempre havia aquela rivalidade: “O jogador que fez o gol é de que time, em? Só podia ser do meu”; “mas quem deu o passe, em? Do meu”, mas era jogo do Brasil, e essa eterna rincha não ia muito longe.

Meu tio organizava as maiores festas nas Copas do Mundo, e eu não via a hora de passar quatro anos. Ia apenas pela festa e para conversar com o pessoal que ia ver o jogo. Em três dessas competições que eu acompanhei festivamente, apenas um o Brasil foi campeão.

Lembro-me da Copa de 94, quando o Brasil foi tetra, o Estadão presenteou os assinantes, e meu pai era, com uma fita com todos os gols do Brasil no campeonato, até o último quando o goleiro Tafarel defendeu um pênalti e deu o título a nós.

Desinteressei-me pelo futebol. Os melhores jogadores estavam indo embora para o exterior, os que jogaram a Copa do Mundo já estavam velhos e começara a abandonar o esporte e eu me dediquei aos estudos e não tinha nenhum dia reservado às peladas. De vez em quando, de terça à noite, arriscava um society, mas eu nem agüentava correr muito.

Após um certo tempo, nem lembrava mais qual era o objetivo de 22 homens correndo atrás de uma bola: seria o futebol? Hoje eu lembro que eu fui fanático, como todo garoto de 10 anos. Percebi isso assistindo o Campeonato Paulista de 2008, que não passa nenhuma emoção, nenhum ecstasy aos telespectadores e ao narrador. Entretanto, sinto que até meu gosto pelo esporte está voltando um pouco em meus tempos de ócio. Estou notando que novos ídolos estão se formando, novos pulinhos eu estou dando e até novas cochiladinhas eu estou arriscando...

Diego Mendes
Enviado por Diego Mendes em 28/04/2008
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