Mulheres

Mulheres

Duas horas da manhã, contrariado espero pelo meu amor.

Vou subindo o morro sem alegria, esperando que amanheça o dia.

Qual será o paradeiro daquele que até agora não voltou?

Eu não sei se voltará ou se ela me abandonou.

A minha esperança está morrendo.

E a saudade no meu peito vai crescendo.

Parece até que o coração me diz:

Sem ela eu não serei feliz.

Há um ditado que diz: “Com mulher nem o diabo pode”. Sábio o seu autor. Ah! As mulheres, eu não resisto a elas. E quem resiste? Mas também, às vezes, eu as odeio. Faço força danada para ser diferente. Todo esforço, porém, independentemente do meu empenho, em geral, resulta inútil. Não tem jeito:mais cedo ou mais tarde – e isso é só uma questão de tempo – por maiores que sejam meu “ódio” e os meus eventuais descontentamentos, sempre acabo caindo nas garras e nas armadilhas delas. E tudo indica que eu gosto.

Elas são maravilhosas: esforçadas, trabalhadoras, sérias, leais aos seus princípios, tenazes e perseverantes, lindas. Enfim, são um encanto. Quanta sutileza, capricho, lábia, intuição, doçura e quantos outros atributos elas carregam e esbanjam, com maior naturalidade do mundo, ora para nosso deleite ora para meu desespero.

Faca de dois gumes. Mesmo assim – e para começo de conversa, eu vivi rodeado de homens em minha família, seis.

Já tentei de tudo em termos de enfrentar as mulheres. Algumas vezes, tentei me fazer de durão, machão, de indiferente, mas também não deu certo. Nunca cheguei ao crime consumado. Sempre fiquei na tentativa, em grande parte porque minha força de vontade referente a isso parece duvidosa. Mesmo assim, na esperança de enfrentá-las de igual para igual, “marcação homem mulher”, já recorri até ao clássico A ARTE DA GUERRA, do famoso guerreiro-filósofo chinês Sun Tsu, que ensina: “ a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo (seja ele qual for) sem lutar”. O livro é ótimo. Aprendi muito com ele e usei algumas de suas estratégias.

Muitas até me foram bastante favoráveis, mas outras, francamente, devo admitir, fizeram-me dar com os burros n´água, danei-me todo. Os ensinamentos de mestre não deram certo com as mulheres. Fracassei de vez e desisti.

Quando, porém, as mulheres se tornam invencíveis. Tudo bem. Já que é assim, eu me entrego e confesso: tratando-se de resistir bravamente a essas criaturas, eu sou um fracasso federal. Sexo frágil. Elas me levam na conversa, na lábia, ganham-me sempre, o que dá na mesma. Apesar disso, gosto delas, e como amor tem suas recompensas, não posso reclamar.

Outro dia, eu conheci uma lamuriosa. Eu a encontrei chorando as mágoas, choramingando as pitangas – como se diz – e, antes de tudo – cantando baixinho o velho samba, chamado duas horas da manhã, cujos versos estão no começo deste escrito: a música foi gravada na voz de Paulinho da Viola. Foi exatamente o que depois vim saber de sua própria boca, mesmo sem perguntar nada. Eu estava quieto no meu canto, ou melhor, na minha poltrona, dentro do ônibus a caminho de minha cidade. Foi então que percebi, melhor, escutei aquela figura cantando baixinho na poltrona ao lado da minha. Eu não sou surdo, virei o rosto para janela na intenção de deixá-la mais à vontade. Feito isso, o samba correu solto na sua boca e, de tanto ela cantar, decorei a letra. Gosto de cantar, no banheiro, e quando me dei conta, estava cantando baixinho os versos da subida do morro. Ela olhou me olhou, retribui o olhar e de repente parecíamos amigos de longa data. Não éramos. Eu não disse nada, só cantei, e ela puxou conversa. Conversamos e, de resto, cantamos a viagem inteira. Baixinho, para não perturbar a humanidade. Assim são as mulheres, imprevisíveis. E assim sou eu, embora você não acredite.

Marcos Barbosa
Enviado por Marcos Barbosa em 30/04/2008
Código do texto: T968758