Três causos crônicos...

A loucura...

Do escritório olhava a rua e minha mente atingiu uma engraçada afirmação: “A loucura tem suas verdades, e toda a verdade tem muitas loucuras”.

Conheço um mendigo que mora numa praça e com pedras colocadas ao chão delimitou o que seria sua casa. “A loucura tem suas verdades”.

Dois anos atrás a mulher de minha vida disse que não suportava minhas fraquezas, que me amava, que nenhum homem fez por ela o que eu havia feito, que mudei e marquei sua vida para sempre. Depois se virou, saiu do carro e não mais voltou. “A verdade tem muitas loucuras”.

Hoje sai de casa sem nada perceber. Meu afilhado me disse docemente: “Eu te amo”. Deu-me um longo abraço e me deixou partir. Fui até a praça e disse ao mendigo: “Eu te amo”, e lhe dei um longo abraço. Escrevi para a mulher de minha vida dizendo que a amo. Em anexo uma foto da gente se abraçando. “A loucura tem suas verdades, e toda a verdade tem muitas loucuras”.

Microbiografia de um átomo

Eu, como átomo, resolvi registrar minha existência, embora algumas questões me perturbem: “De onde vim? Para onde vou?”. Não consigo saber...

Se nasci, não me lembro à data. Se eu morrerei ainda não me foi dito. Nem mesmo tenho laços familiares...

Mas o importante é que sem datas não tenho o que comemorar e nem o que temer. Sem laços familiares não tenho ninguém a quem me apegar; convivo com todos os átomos sem precisar de algum em específico. Sem saber de onde vim e pra onde vou não me prendo a uma terra natal e nem temo um cemitério.

Sou um átomo e isso me basta por si só. Não preciso demonstrar felicidade ou esconder a tristeza porque ninguém observará. Não tenho necessidade de dar significado para nada, e por isso mesmo não preciso e nem sei julgar ninguém. Para viver como um átomo é preciso de grandeza, embora isso pareça antagônico. Para viver como um átomo é preciso bastar-se em si, sem egoísmo, é preciso ter a experiência pela experiência, a existência pela existência, o que se é pelo próprio ser.

Modernidade contemporânea

Dentre todas as modernidades que conheço a que mais me atrai é a contemporânea. Esse mundo todo todo, sabe? Essa criatividade moderna e ao mesmo tempo contemporânea, capaz de inventar línguas. Axo mto + fáciu simplificar as coizas. Até porque axo um saco a gramática. Si vcs pensá cumigu vam entende o q qro dize. Desa manera iskreve fica mto + rápido e mto bom, isso qé dize, podemus iskreve mto + qi antis, e asin, lê Camões fica bem + faciu, + rápido di entende. Pur isu qi qro sartu nem lis du minen co pebe, per kis d lato sensu usufi sem solapo. Tem q + ou – cem $, % ou ? tras d qm me meli pe ba, tra si to q tum pi naum ba.