OS MORTOS DORMEM

As lágrimas eram coletivas, como também era coletiva a tristeza do óbito. Estava ali, com pouco mais de 30 anos, mais uma vítima da violência urbana, da violência que o Estado - “democrático de direito” - não consegue exterminar. Estava ali inerte e fria... mais uma vítima das estatísticas que sobem dia a dia.

Deixou filhos, deixou marido, deixou amigos. Deixa saudade e também a interrogação do por quê? Tão nova, tão alegre, tão sonhadora, tão cheia de vida... despede-se do mundo sem dar seu último beijo, sem dar seu último adeus, sem dizer absolutamente nada. Vítima de bala perdida... vítima de uma cruel desgraça. Ali, inerte e fria, cercada pela dor da perda, do inexplicável e fatídico acontecimento.

Mais uma vítima que segue - com seu féretro - para o repouso eterno. Mais uma vítima sepultada sob o inconformismo social dos que lhe seguem... daqueles que bradam silenciosamente por justiça; daqueles que sabem que a justiça, que o poder de polícia e que a segurança cada dia se dissolvem um pouco mais.... ficando reféns da criminalidade.

Mais uma vítima da violência, mais uma história que se finda . Deixando filhos, deixando marido, deixando amigos... deixando saudades! Deixando também o inconformismo e muitas lágrimas sob as coroas de flores. Deixando também... a certeza fria de que para ela agora é tarde, de que agora resta-lhe apenas o silêncio e saudade. Porque assim, silenciosamente, as vítimas dormem. Porque assim, silenciosamente, os mortos dormem. Silenciosamente!

PS: MARIA J.C da SILVA...

32anos, brasileira, casada, empresária...

falecida vítima de bala perdida numa capital brasileira.

Adriano Hungarô
Enviado por Adriano Hungarô em 02/05/2008
Código do texto: T971281
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