Nathalie, a Política

Nathalie a Política

Nathalie decidiu entrar para a política. Tinha em sua família tradição ,pois um bisavô, homem brilhante e advogado, havia com sucesso iniciado este caminho. Digo iniciado porque ele um dos que mais merecia seguir adiante, foi abafado e perseguido em todo o partido e depois pelo próprio presidente a quem ele havia lançado como candidato . Anos mais tarde outro ditador , percebendo o homem brilhante e honesto, como o político de caráter que tinha pela frente não mediu esforços para o afastar.

Nat sabia de antemão que aos medíocres não se apaga, e tão pouco tinha simpatias por partidos políticos brasileiros. Lida, culta, conhecia a vida e a história política dos países estrangeiros e percebia as notáveis diferenças (com algumas raras exceções entre eles) com os daqueles de Riocomprido. Resolveu tentar.

Matriculou se em uma Faculdade para fazer o curso de Ciências Políticas mas logo largou, e largou ao considerar o curso fraco. Era época de eleições e pouco se falava em aulas .Os professores e alunos tementes de perder seus cargos, ou de não conseguir melhores se transformavam em conchas fechadas e poucas opiniões eram externadas. Quando ela verbalizou sua revolta com a privatização da Rio Mel todos vibraram, mas não a apoiaram.

Entendeu que o grupo, na época temeroso, precisava de alguém que falasse por eles. Este alguém era ela que não tinha grandes compromissos como filhos ou marido , o único compromisso era consigo, porém se chateou de ser usada ou de falar sozinha, e revoltada com a situação, sendo autodidata, pegou todo o programa, comprou os livros e estudou pacientemente todo o curso em casa. Varou noites, mas se enriqueceu muitíssimo. Ao final podia discutir qualquer assunto e acompanhar todos os discursos políticos. Resolveu procurar um político influente para tentar trabalhar como sua assessora. Havia uma vaga .

Encontrou na sala de espera outra candidata, esta uma mulher tão bem vestida e apresentada como ela, porém, sem curso algum, conhecimento nenhum, sequer de inglês. Achou graça, entretanto, no pouco caso que a outra fez ao saber de todo o seu conhecimento e foi quando Glorinha replicou sorridente:

- Pois é, que bom que estamos em Riocomprido, não é?

Nathalie fez a entrevista e foi muito bem tratada, mas percebeu que o parlamentar a desconversou ,não estava realmente interessado. Acabou dizendo a ela que esta vaga não era certa, que a haviam cortado, nem ia atender a próxima moça, que a desculpasse e se a atendeu foi por cortesia e que a desculpasse novamente. Saiu decepcionada, decidida a esperar outra oportunidade quando, no Shopping, dias depois, encontrou a Glorinha em altas compras e se aproximou:

_Não deu a vaga não é Glorinha? Que chato!

- Como não deu, querida! Deu, sim! Deu mesmo! Eu dei, sabe querida! Eu nem falei! Disse te! Tentei te falar! É Riocomprido querida! Que graça és !” Tchauzinho”, disse Glorinha, toda rebolada , nos trinques, cheia com as sacolas de roupas e sapatos.

Nathalie nunca mais tentou,desistiu da futura carreira pois não sabia dar sem amor, sem estar apaixonada,por ganância, não sabia nem um pouquinho e pensava, meia tristonha, meia envergonhada, que sabia toda a história ,a literatura, tinha conhecimentos de economia, mas ,o que para as outras era o mais fácil e que elas sabiam ,para ela era o mais difícil e ela não sabia.

É , Nathalie, a Política, não sabia que tinha que dar para ganhar e perdeu com todos os seus cursos,” mas é Riocomprido, é uma graça "e quem ganhou de goleada foi a Glorinha .

Suzana Heemann