Dona Zefa e o Carnaval

Dona Zefa e o Carnaval

Dona Zefa costureira e remendeira de escola de samba ,que agia com suas agulhas,escondida,nos momentos de desastre na avenida,estava toda curvada e suada mas,ainda,com uns restos de dengue,rebolado ,vinha subindo a ruela em rumo à favela.Terminado o desfile na Avenida,já não havia mais sequer transeuntes onde antes se dera o desfile,nem alegorias ou espaço para a fantasia e a magia,somente restos de confetes,serpentinas,e os primeiros garis que apontavam no horizonte sobre o asfalto negro,em breve escaldante.

Zefa sorriu ao ver suas vassouras e uniformes amarelos.Saiu pensando ,fantasiando,imaginando.

Repentinamente como um raio,a luz provinda da fértil imaginação de Zefa começou a brilhar se transformando em pensamentos ou seja, na nova escola do próximo ano que agora passava na Avenida para sua delícia.

Zefa visualizava mentalmente quando toda a escola do próximo ano sairia vestindo roupas de garis,o mote do Carnaval.Os carros alegóricos teriam enormes vassouras com pedestais onde os destaques vestidos agora de um uniforme adequado mostravam o seu samba no pé.Os homens podiam vestir calções dourados com lantejoulas bordadas.Os quepes ou bonés teriam paetês,miçangas e plumas.

Zefa se aliviou das roupas de baiana as colocando em um saco que dependurou nas costas as quais brilhavam ainda com os tênues esboços do sol.

A comissão de frente de sua escola, tinha roupas, smokings dourados com camisa e faixa azul-marinho de seda brilhante para os homens e,para as mulheres exíguos biquínis em azul tendo nos bonés plumagens douradas.Os bonés seriam a marca registrada,exibiriam um G e todos levariam vassouras,tendo ao invés de palha vários fios de fazenda em seda brilhante apontando para o céu.

O primeiro carro alegórico,amarelo tal qual os carrinhos dos garis, seria um enorme ,um imenso carro com uma das tampas aberta e carregadas de confete , serpentina, a simbolizar o lixo .À medida que passassem os destaques em exíguas e simples roupas populares retiravam o lixo para trás ,onde vinha a comissão ou a ala dos garis propriamente ditos.Estes todos com os carrinhos fantasiados de acordo com o uniforme oficial se punham a limpar o lixo atirado pelos destaques enquanto rodopiavam,bailavam, sambavam e os passistas desfeitos em mesuras ,sorriam.E ela, Zefa , estaria magérrima seria a rainha da bateria,corpo coberto de pó de ouro,trançado o cabelo pixaim com fitas amarelas de seda,biquíni de lamê dourado,estandarte na mão,aceitando e rebolando para os assovios e palmas de toda a população extasiada..

Zefa suspirou ,cansada,maravilhada com sua imaginação, o coração batendo forte e,animada,já ensaiava os primeiros passos pela ruela que desembocava na favela antevendo todo o seu sucesso no próximo Carnaval.

No exato momento em que o ultimo passista fazia o compasso do último passo,gingava e se retirava da rua,quando amanhecia o dia acompanhando os carnavalescos suados,quando a avenida se encontrava vazia e o primeiro carrinho de gari despontava lá no começo da avenida como um pequeno ponto amarelo,já se iniciava o próximo carnaval no cérebro de Dona Zefa.

Zefa não parou na maloca ,mas entrou no barracão da escola e se pôs a trabalhar,costurando a primeira fantasia: rainha da bateria...

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 04/05/2008
Reeditado em 28/06/2008
Código do texto: T974294
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