Proibiram a Marcha da Maconha. E agora?

Julinho é meu amigo, um cara gente boa, carioca, carioca da gema. Daquele que vai à praia todo final de semana para jogar uma partidinha de futevôlei. Outro dia ele até me confessou que seu maior sonho é ser amigo do Romário, seu ídolo. Aproveitei e confessei que o meu é ser amiga de Gandhi. E ele me perguntou se Gandhi era o dono do restaurante indiano da esquina de sua casa. Esse é o Julinho. Um bom-vivant que tem pouquíssimas preocupações na vida. Uma delas é para qual estação de esqui ele vai este ano. Ele sempre fica na dúvida entre Suíça e França. Um dilema crucial para sua existência.

Mas tem uma outra coisa que o preocupa e o tira do sério, e muito. É algo que o deixa completamente fora de si, que o faz discutir horas a fio e madrugada adentro. Eu que o diga. Não, não é a pobreza, a corrupção e nem a dengue. Acho que ele nem sabe o que é tudo isso. Do alto da sua cobertura no Leblon, metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, ele vê apenas uma cidade maravilhosa, um céu azul, um mar limpo. Uma cidade sem mosquitos e sem violência. Violência para ele é coisa de cinema.

Mas vocês devem estar curiosos para saber o quê então tira o Julinho do sério. Calma. Eu conto. Mas garanto que é algo que mobiliza não só o meu querido amigo como a maioria dos brasileiros. É algo que certamente já te mobilizou pelo menos uma vez. Não sabe ainda? Não? Tem certeza? Ora, é a Copa do Mundo! Sim. É isso mesmo. Julinho é apaixonado por futebol. E como bom brasileiro, sem nenhuma vergonha, se veste de verde e amarelo e vai para rua gritar Braaaasil a cada gol feito. Ele tem orgulho de ter nascido e de morar no país pentacampeão. Julinho é mesmo nacionalista. A cada quatro anos lembra das cores da bandeira de seu país e vai para ruas declarar seu amor à pátria varonil.

Acontece que hoje liguei para o Julinho e ele estava muito exaltado. Eu, que não acompanho nada de futebol, até pensei que era ano de Copa do Mundo e eu estava alienada... Mas não. Para meu espanto e surpresa, o motivo da exaltação de Julinho desta vez era outro: a proibição da Marcha da Maconha. - E agora? E agora? - Repetia ele ao telefone.

É Julinho... Para quem acredita que o Brasil é o País das Maravilhas, que o Rio é a Cidade Maravilhosa, que Tropa de Elite é ficção e que Maconha é só uma planta, só resta esperar mais dois anos e marchar rumo ao Hexacampeonato.