Mãe

Eu só queria poder conversar mais um pouco contigo. Sentar mais uma ou duas vezes à mesa da cozinha da tua casa, lembra? Quantas vezes ficamos lá, só nós dois, falando sobre a vida, tomando aquele café que você fazia com tanto carinho? Café mais forte que o que você fazia para todo mundo.

Eram tempos de vacas magras, de dificuldades. Mas quando que, em tua vida, os tempos não foram difíceis? Café forte? Só para mim. Só quando eu estava em sua casa. Afinal, meus irmãos não diziam para nós dois que eu sempre fui o teu preferido?

Lembra quando meu primeiro casamento naufragou como canoa furada? Lembra que o porto seguro que eu busquei foi tua casa, teu abraço e tua proteção? Lembra que morei, lá, um bom tempo? Lembra que toda manhã você vinha me acordar para que eu fosse trabalhar e que nunca deixou de trazer aquela xícara de café? Existe gesto mais carinhoso que este?

E daquela torta de banana especial que você fazia sabendo que eu ia comer e, como menino, ia lamber meus beiços, você se lembra? Você sabia que eu só comia doce como aquele na tua casa, feito por você?

Lembra da cara com que você ficava quando eu te dava alguma coisa, por mais barata que fosse, e você dizia - Não precisava ter trazido. Fica gastando dinheiro comigo? - e eu, sabendo do espanto que ia causar dizia prá te provocar - Não gastei nada. Roubei.

Lembra daquela época em que perdemos três ou quatro parentes em dois ou três meses e que o portador da notícia era sempre eu e sempre a notícia chegava à noite? Lembro-me bem que, a partir daí, toda vez que eu chegava na sua casa, à noite, você corria a perguntar - Me diz, não me engane, quem morreu agora?

Ah! São tantas as lembranças, tantos os gestos de carinho que só você sabia fazer.

Eu só queria conversar mais uma ou duas vezes com você.

Eu só queria poder te dizer mais uma vez - Eu te amo...

Não vai dar. Não vai ser possível.

Você se foi, agora, em fevereiro.

Mas eu vou dizer. Mesmo que você não esteja aqui prá me ouvir:

-Mãe, eu te amo! E eu sinto tua falta.