ANO DE PALAVRÃO

Este ano é de eleição. Asfalto novo nas vias principais; merenda nas escolas; inauguração de obras inacabáveis no grande centro. Este ano é de eleição. Caras e bocas para o povo em outdoors; politicagem em horário nobre. Oba, hoje tem pão e circo! Este ano é de eleição. Uma parada para a foto; passeio de carro blindado na periferia; soluções à curto prazo, melhoria pra vida toda. Este ano é de eleição. Boas vindas à saúde, segurança, educação, moradia, vaias ao atraso e à violência; palmas e louvação para a chegada do messias, que em terno e gravata, sorriso sincero e ombro amigo gratuito, sobe ao palanque como quem levita sobre um templo, professando aos quatro ventos a multiplicação dos votos. É. Este ano é de eleição.

Aumentam-se os gastos públicos. Aumentam-se as propagandas. Aumentam-se as promessas. Diminuem-se os palavrões.

Diminuem-se os palavrões? Explico.

Ano eleitoral mais do que qualquer outro, é um ano de amnésia coletiva, é quando se esconde nas gavetas ou se empurra para debaixo do tapete desaforos e contrariações de três anos.

Nada mais sincero e justo do que os palavrões de um trabalhador, depois de doze horas de sol a pino, dirigidos aos gatunos da capital ou sobre os absurdos “superfaturamentistas” da câmara dos vereadores. Aliás, demos graças ao bom Deus, pela criação de ordem divina que é o palavrão. A verdade (como já disse em outra oportunidade), é que aquelas palavras feias e grosseiras, que aprendemos quando criança e que vão se acumulando e tomando forma com o passar dos anos, têm mais (leia-se muito mais!) do que o singular objetivo de agredir ou insultar alguém. Pois o palavrão alivia, acalma, denota o que não está no dicionário, manda para o inferno todas as falcatruas da máquina estatal.

Acontece que esse ano é de eleição e o mesmo trabalhador descrito no início do parágrafo acima, não tem motivos para xingamentos. Asfaltaram a sua rua, até pintaram os meio-fios de branco, o branco da paz; a creche abriu novas vagas para deixar os três filhos e um posto de saúde foi inaugurado.

Em ano eleitoreiro é necessário driblar o senso comum, pois o palavrão é psicologia, é remédio, é válvula de escape e acredite, também é político. Por isso meu caro leitor, através de seu voto xingue consciente, verbalize todas as injustiças e roubalheiras de três anos em alguns números e uma tecla verde. Faça do seu voto o palavrão de cada dia.

Ou então se coloque a venda, ganhe uma dentadura, desfile por alguns domingos o novo par de sapatos e fique rouco de tanto xingar até a próxima eleição.

É. Este ano é de eleição...

PUTA QUE O PARIU...