Idosa?

IDOSA?

Elisa e Nicole eram mãe e filha e residiam juntas como amigas e companheiras repletas de afinidades.

Elisa tinha 79 anos e conservava uma alegria de viver intrínseca,um entusiasmo que comunicava à Nicole e conhecidos,de modo que as opiniões a seu respeito eram de “uma mulher cheia de vida”.Nos momentos em que Nicole estava entristecida, aborrecida ou incomodada a mãe se maquiava para ficar com um rostinho bonito e feliz e a alegrar.

Como Elisa tinha duas fraturas vertebrais,isto a deixava corcunda e com dificuldades de deambular,some se a esta escoliose uma asma séria,os dois fatores juntos a impediam de sair,de maneiras que vivia para a filha,para rir das novelas e programas de televisão e ler um Jornal local.Aos domingos Nicole dormia até tarde e ela se levantava de manhãzinha para que os vizinhos,sonhando a esta hora, não a vissem deformada, e ia ao jardim buscar o manuscrito.

Nicole quando acordava já a encontrava mergulhada nas notícias do Jornal e à medida que lia,chamava a atenção da filha para estes ou aqueles assuntos interessantes,a ponto dela não precisar mais o ver tão boa era a síntese da mãe.

Nos raros Domingos em que se sentia melhor das dores, sem asma e, portanto ,com apetite,se arrumava com esforço,os movimentos lentos,se maquiava,punha brincos e seu colar de pérolas e convidava a filha para irem a uma churrascaria.E como gostava daquela caipira que tomava no restaurante!O “bate papo” entre as duas era sempre composto de conversas agradáveis e caso Elisa sentisse alguma dor em ficar tanto tempo sentada disfarçava para a distrair.Os desentendimentos aconteciam quando queria repetir a caipirinha e desafiava Nicole de dedo em riste que, por precaução com sua saúde, não permitia a dupla dose.Num destes dias a filha disse que baixasse o dedo em frente a sua cara e ela,sempre de bom humor para com as ironias da vida,disse:-Depois,quando eu morrer,vais sentir saudades do meu dedo.

E a saudade, mesmo do dedo, pegou e feriu,sangrou, quando a mãe se foi serena e tranqüila.

Semanas depois ela abriu o guarda roupa cheio da classe dela, e começou a vestir uma ou outra peça quando, se vestindo, sentiu proteção,calor, ou bom humor, e neste momento as feridas iniciaram a cicatrizar, ao usar o vestuário lembrando da extrema vaidade com que as levava mesmo aos setenta e nove de idade.E que humor ao se enfeitar para sair!

Quando Elisa se foi, se foi uma jovem de oitenta anos, nunca uma idosa.

E haja Saúde Mental!!!

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 18/05/2008
Reeditado em 16/01/2011
Código do texto: T994334
Classificação de conteúdo: seguro