O que eu diria pro mundo inteiro.

Venho pelo não-dito, pelo constantemente pensado, até cogitado. Mas, a cima de tudo, pelo não-dito. Nunca fui boa com as palavras, não as que dizem respeito à mim ou pessoas à minha volta, as quais me importo e tenho um tremendo medo de machucar. Esses tipos de palavras, as ligadas aos sentimentos, pensamentos e emoções

nunca foram o meu forte e talvez nunca serão. Sei disso e tento melhorar, constantemente. Tento me policiar ao que dizer e o que não dizer.

O não-dizer sempre foi mais fácil. O ato de negar, de fingir, de fugir. Tudo isso é sempre mais confortável. Não ter que lidar agora, deixar pra mais tarde, dar voltas e voltas, inventar uma desculpa, querer que o chão se abra ao meio pra escapar, ou simplesmente se trancar em casa e nunca ter uma vida social. Às vezes me arrependo

amargamente de ter criado uma. Sinto preguiça de ter que "mantê-la", de saber que estou lidando com seres humanos e ter que me lembrar que eles não são tão frios como eu posso ser. De ouvir coisas e simplesmente fingir que elas te magoam porque seria insensível dizer que elas não magoaram. Só criaria mais problemas.

Com o tempo o "deixar para mais tarde" cria uma redoma. O "mais tarde" torna-se algo tão longínquo quanto as pessoas à sua volta. Aquelas que você não queria magoar. O que você pensa é de um nível tão frio, a ponto de você ter que fingir que se magoa com palavras. Você quer deixar as pessoas saberem disso, mas o monstro

interno que você criou no começo de tudo foi por causa delas.

Não há mais vontade de lutar. De manter. De conviver. De pensar. Analisar.

Elas te fazem miserável. Porque você se faz miserável. Você não se acha digna de confiança. Não se acha merecedora de você mesma. Elas não ouvem o que você diz porque você própria não gosta das suas palavras. Elas soam patéticas dentro de você, inúteis, fracas. Você é egoísta. É egoísta porque não é altruísta. Não se importa de

verdade com as pessoas, nunca se importou. Elas sempre foram uma desculpa pra te deixar mal e você gosta de estar mal. Gosta de se sentir mal com você e o mundo. Gosta desse ódio que elas te causaram. Gosta dessa dependência. Porque um dia alguém vai ter a capacidade de olhar no fundo de seus olhos e ver isso. E do não-dito

essa redoma vai se quebrar. E alguém vai te proteger. Vai tomar as suas dores, te pegar nos braços e te levar pra casa.

E é com isso que você conta, a todo segundo que respira.~*

Júlia Schneider
Enviado por Júlia Schneider em 10/08/2008
Reeditado em 12/03/2013
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