Dos discípulos de Malba Tahan

Éramos oitenta em 2000, quando iniciamos o curso de Matemática pela UFMT, Campus de Primavera do Leste. Na noite de cinco de julho de 2003, fomos apenas vinte e sete a participar da cerimônia de colação de grau dessa que foi a primeira turma de matemáticos de Primavera do Leste. Na ocasião, falando pela turma “Msc. Adelina Neres de Sousa Campos”, como orador, nós deixamos uma mensagem à sociedade, homenageando o consagrado matemático Júlio César de Melo e Sousa, popularmente conhecido pelo seu pseudônimo de Malba Tahan. Segundo ele, “a vida mais bem vivida terá aquele que viver na Paz, no Dever e no Amor, isto é, aquele que viver na Verdade de Deus”. Então eu disse:

Desde que nascemos, temos sido educados na Verdade de Deus e aprendemos a amá-LO e a honrá-Lo sobre tudo e sobre todos. Por isso, nossas primeiras palavras, como formandos de Matemática, são de agradecimentos a Ele, por essa missão cumprida. Na semelhança do xadrez, fizemos o jogo da vida. Fomos os peões que atingiram a oitava casa, vencendo os diversos obstáculos das sete casas anteriores. Muitos outros peões foram sacrificados, muitos colegas ficaram pelo caminho, muitas outras pessoas se aliaram a nós e nos ajudaram a chegar a esse ponto culminante que releva a nossa existência no palco da história.

Dei uma parada, respirei fundo, olhei para a turma. Havíamos seguido as regras do jogo e, agora, naquela solenidade de formatura, com o sacrifício e o empenho de tantos companheiros, nós deixávamos de ser meros atores coadjuvantes, para nos transformarmos nas estrelas da festa. Então continuei.

Reconhecemos que as verdadeiras vitórias não residem no ato de ganhar as batalhas, mas, sim, no ato de valorizar e honrar aqueles que contribuíram para que isso acontecesse. A vitória não é um mérito individual. É, antes, o somatório dos esforços de todos os que lutaram. E, com certeza, é mais digno de glória o empenho dos que se sacrificaram e não venceram, do que propriamente o daqueles que levantaram a espada da vitória, pois aqueles deram suas vidas pela causa. Que Deus retribua o zelo, a atenção, o carinho e o amor de todos os que conseguiram renunciar a uma parcela de suas vidas em favor das nossas.

Sabemos que palavras são apenas palavras. Mas queremos que todos saibam que estamos colocando nelas o sentimento de gratidão mais profundo que brota de nossos corações, para dizer-lhes o nosso muito obrigado! E o nosso maior agradecimento será demonstrado com o nosso empenho e dedicação no cumprimento de nossa missão ao longo da vida.

Na oitava casa do xadrez o peão se transforma em torre, cavalo, bispo ou rainha. Tendo atingido a oitava casa da vida, seguimos a lição do mestre Malba Tahan e esperamos nos transformar em bispos e rainhas, para fazermos do fim de nossas vidas como professores de Matemática, um sacerdócio em prol de todos aqueles a quem viermos servir como mediadores da construção do conhecimento.

É inegável que o mundo real é resultante de uma infinidade de cálculos matemáticos. Nada existe ao acaso. Nenhuma prática subsiste alijada de uma teoria. Na elaboração do plano de criação do mundo, Deus, o Supremo Matemático, deu os primeiros passos, calculando com perfeição todos os detalhes da obra que deveria ser construída e entregou-a para o homem administrar e usar em seu benefício, enquanto crescia e se multiplicava.

Hoje somos mais de seis bilhões. E o mundo de Adão já não é tão simples de ser entendido e interpretado. As atuais construções que o conhecimento humano tem arquitetado são resultantes de cálculos matemáticos cada vez mais avançados e mais complexos. A evolução é tal, que não podemos prever onde tudo isso vai parar. Todavia, não temos nenhuma dúvida quanto à necessidade que todos temos de interpretar o mundo no qual estamos inseridos, se desejamos continuar vivendo nele. Esta é a razão de nossa existência enquanto professores de Matemática. Nós nos preparamos para ocupar esse espaço de labor.

Queremos dizer à sociedade que investiu seus recursos em nós, que aprendemos cada uma das lições de nossos mestres, que seguimos o exemplo de nossos líderes e agora estamos prontos!

Estamos prontos para atuar juntos aos filhos dessa geração tecnológica, como mediadores e oportunizadores da interpretação do mundo. A eles dedicaremos nosso conhecimento, nossa experiência, nosso exemplo e nossa vida, empenhando-nos no máximo de nossas potencialidades, para que eles possam ser melhores e mais capazes do que nós fomos.

Essa foi a síntese que brotou de nossos corações naquele momento único de nossas vidas.

Discurso proferido na solenidade de colação de grau da 1ª turma de formandos em Matemática da UFMT, Campus de Primavera do Leste, pelo orador da turma Izaias Resplandes de Sousa.