um desafio para a geração atual

""Nação já é coisa racista,

Diz que não, me engana,

A África precisa ajuda, ouviu, bwana.""

Um certo "white power" no Brasil começa a se organizar.

Não serão eles louros de olhos azuis, mas brancos, isto é, um pouco amarelo-alaranjados, aquela cor indefinida, bege, creme, salmão, cor de pele dos esparadrapos.

O que eles reclamam? Aflitos, são contra as cotas raciais nas universidades. Dizem eles que na disputa dos últimos lugares, os brancos estão em desvantagem, e esquecem que na disputa de todos os outros lugares, os brancos estavam disputando com outros brancos.

Reclamam eles contra as leis que protegem os quilombolas, contra a demarcação das terras dos índios.

Mais um pouco e começarão a reclamar contra o aumento do salário mínimo, contra a inaudita redistribuição de renda, contra uma diminuição do empobrecimento ocorrido principalmente entre os não-brancos. Ah, esses brancos que reclamam também querem ser felizes.

Não bastaram os quinhentos anos de exploração dessas terras e a escravidão? Não, eles querem mais, numa posição anacrônica. E o pior é que muitos dos que encabeçam e fornecem argumentos a essa campanha reacionária que se inicia são professores universitários, em escolas tradicionais, redutos de tradicionalistas das classes ditas superiores.

Alegam eles que a política de cotas é racista., porque segrega os brancos, num exercício de lógica absurda, ou é racista pois legaliza a inferioridade das demais raças não-brancas.

Por detrás do raciocínio, o pensamento mágico de que, se não se falar de determinado assunto, ele passa a não existir. Ou seja, não há racismo no Brasil, e passa a haver racismo quando se adotam políticas antirracistas... Um pensamento deveras absurdo, digno de constar de alguma fábula de Esopo.

Pois, caros senhores, tais políticas podem não resolver o problema do racismo, que vai continuar existindo na sociedade brasileira, mas reduz, emergencialmente, uma injustiça histórica, ou seja, a impossibilidade de acesso ‘as universidades públicas de uma ampla camada da população, devido a sua origem racial.

Os problemas do país continuarão existindo, e fica patente que, quando se chega ao ponto de se iniciar o seu enfrentamento, as vozes contrárias se manifestam, o que, aliás, é muito saudável para a democracia, que é o regime onde impera a lei.

Eliminar o racismo do mundo é um enorme desafio para as próximas gerações. Elimina-lo no Brasil, é um desafio para a geração atual.