QUANTO VALE A SUA INOCÊNCIA?

Como já foi dito em outro texto*, o que importa não é quanto vale uma vida humana, mas quanto uma vida humana pode render. Em dinheiro.

A pandemia tomando conta do país, pessoas morrendo no corredor por falta de leitos, hospitais lotados sem mais espaço para isolamento, e olha que bonito: as prefeituras, os Estados, as instituições federais, todos fechando as portas e adiando a volta às aulas. Preocupação com nossas crianças e nossa juventude? Bom se fosse. Como ainda no atual estágio de desenvolvimento em que se encontra nosso povo, pode a maioria continuar tão inocente? E não é a maioria sem recursos. É a maioria com grana no bolso para gastar.

É certo que, com o adiamento das aulas, os governos economizam um bocado. E de quebra, calam a opinião pública. A rede municipal da minha cidade foi a última a parar, pressionada pela população e por todas as outras redes já paralisadas. Melhor não contrariar o povo. No entanto, os shoppings continuam a todo vapor, shows lotados de cantores de axé durante todo o fim de semana, onde jovens bêbados se acotovelaram sem espaço nem para caminhar.

Qual é a distância de segurança mesmo? Ah, um metro. Mas nem parece. Os cinemas não podem parar de lucrar, supermercados abarrotados e até um circo está excursionando na cidade. Claro que não poderia faltar diversão para o povo esquecer a gripe...afinal, o que um bom capitalista faz em pânico? Ou compra, ou come. Para qualquer uma das duas opções, vai dinheiro.

Enquanto isso, reportagens são colocadas no ar em todos os meios de comunicação divulgando os cuidados pessoais com a higiene, transferindo para o cidadão comum o que é de responsabilidade dos governantes, numa situação de emergência pandêmica.

Num show com mais de dez mil pessoas lotando um espaço até ultrapassar o limite, convenhamos que mãos limpinhas não adiantam muito. Mas liberaram. E dá-lhe cerveja. Depois de cair de bêbado, acho difícil alguém lembrar de virar pra lá na hora de espirrar. Mas o importante é que segunda-feira ninguém vai estudar.

E aí? Quanto vale a sua inocência? Vale uma cervejinha?






*Vide "O Cordeiro do Sacrifício", da mesma autora.