DISCURSOS DE LÍSIAS E SÓCRATES SOBRE O AMOR - PLATÃO

Segundo o discurso de Lísias a respeito do amor, não se deve prestar favores a quem ama, mas a quem são dignos de favores. Os apaixonados são conduzidos ao esquecimento dos negócios por causa da paixão, consideram ainda aqueles que amam como os melhores amigos e por eles suportam quaisquer tipos de injúrias. A paixão os levam a imaginar que todos estão dispostos a prejudicá-los e apresentam insegurança em perder a pessoa amada em virtude de bens materiais ou outros motivos. Preferência dos que amam à beleza do corpo em vez do caráter ou condições pessoais, havendo grande possibilidade de término da amizade assim que desapareça o desejo. As amizades não se originam na paixão, mas em outros motivos. Os apaixonados não se preocupam com a verdade ou o bem – é o que pode ser chamado de “cegueira” ou “ilusões do amor”. Pode-se reconhecer o amante por meio de suas atitudes, como perseguição à pessoa amada e todo o esforço para possuí-la.

Sócrates apresenta uma resposta irônica ao discurso de Lísias, critica-o como fraco em relação à expressão, aponta os problemas e procura melhorá-lo. Em seus discursos ou réplicas, aponta que o amor é desejo mas nem todo desejo é amor, e apresenta dois princípios que governam e conduzem: o primeiro inspirado na razão, conduzindo o homem ao que é melhor (temperança); e o segundo é como desejo inato do prazer que não permite que a razão aflore (intemperança). Quando o desejo, não dirigido pela razão, dirige-se para o prazer da beleza de forma intempestiva, caracteriza o que chamamos de “eros” ou “amor”. O desejo conduz à procura do máximo de prazer. Os que amam sentem desejo por aquilo que é belo. Ver beleza no mundo é perceber algo que incita pelos sentidos no caminho do abstrato, provocando uma reflexão em busca da verdade e da justiça. O belo pode ser qualquer coisa física que provoque uma reação, uma abstração que conduza à verdade, que remeta à idéia que é maior do que a própria expressão, faz uma ligação entre o mundo sensível e inteligível. Você se apaixona pelo que é belo, por ver beleza no mundo, o que instiga a busca da verdade e da justiça. A verdade absoluta jamais será atingida e à idealização de uma paixão dá-se o nome de “amor platônico”, ou seja, o amor ideal que, embora conheça sua existência, jamais será concretizado.

Para estabelecer essa relação entre o amor e a verdade, faz-se necessário conhecer o que é a alma. O homem é composto por um corpo físico e uma alma, que se combinam para torná-lo um ser imortal. A alma é algo que se move em si mesma, assim não pode ter tido um princípio e é, portanto, imortal. O objetivo da alma é chegar às abóbadas celestes, longe das baixas paixões, para descobrir as verdades eternas – verdade, justiça, sabedoria, ciência, beleza, pensamento, verdades sem contestação, não sujeitas a mudanças. A alma busca, portanto, o que é divino, bom, belo e sábio, e são essas as qualidades que a fazem fortalecer, ao passo que as qualidades contrárias a fazem fenecer. Portanto, nem todas as almas atingem as abóbadas celestes, e aí se estabelece uma escala. Um filósofo e um tirano, por exemplo, encontram-se nos lados opostos dessa escala, pois o primeiro faz bom uso das sensações do conhecimento, buscando a racionalidade, ao passo que o outro impõe-se como ditador, achando que sua atitude é correta.

Escala das almas:

1º Filósofo

2º Rei legislador, guerreiro, dominador

3º Político, economista, financista

4º Atleta, médico

5º Profeta

6º Poeta

7º Operário, camponês

8º Sofista, demagogo

9º Tirano

A alma que nunca contemplou a verdade não pode tomar a forma humana, pois a inteligência do homem se dá a partir da ocorrência de muitas sensações que chegam por meio dos sentidos e das idéias, das verdades eternas. Assim, uma alma humana pode entrar no corpo de um animal e, desde que já tenha sido homem, a alma de um animal também pode habitar um corpo humano.

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JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 14/06/2006
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T175432
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