O riso dos idiotas

Entusiasmado com expressões artísticas devo confessar que o homem realiza várias coisas infiéis. Desde monumentos esplendorosos, até odes fantásticas. Creio eu, que isso seja pura egolatria. Da mais profunda, da mais sonora. Lêem - as obras - como se fossem um protocolo de admiração e um infeliz sorriso que desce até o profundo canto do lábio. Acreditem, não há mais escritores suficientemente capazes de traduzir, tão somente, a arte. A arte como verdadeira expressão consensual e enigmática. Sendo eu o único - a meu ver - o filho pródigo genial. Levo consigo idéias que homem nenhum jamais pôde sonhar, uma vez que todos, todos sonham: sonhar não é prático. Eu não mais que ninguém, fazendo jus aos meus próprios poemas, criei algo além de um mero escrito. Criei a arte mal escrita e profundamente prolixa. No intuito, de alegrar com um sorriso no canto dos lábios, os homens de coração minúsculo. Incapazes de alegrar seus espíritos loucos e sedentos por renovação artística insofismável.

Mas, contudo, percebi, a cada dia, o quanto é tolo as palavras que saem da minha boca. Quando ninguém poderá absorver algo que eu nem sei o que eu quis dizer. Lançarei um espetáculo: escreva por escrever. Se o assim eles o fizessem, teriam obras mais geniais e entusiasmadas. Cheios de gritos de dor e de admiração, a genialidade beira a loucura. Então, se quisermos o impreterível teríamos que alcançar o estado de inaptidão criativa. Teremos que dar um uivo, aos admiradores fantásticos do clichê metalingüístico que é ser um escritor.

O que hei de dizer àquelas que procuram satisfação pessoal? O silêncio será mais do que necessário, para completar uma transformação pouco vivida. Apenas sentida. Não há grandes obras sem absoluta absorção espiritual e cognitiva, juntando as duas então: delícia.

Embora, eu não seja capaz de me adequar a essa capacidade.

Então, um leitor completo precisa ter aversão à sociedade como um todo. Precisa gostar de livros que o incitem a revolução, a mudança de forma e pensamento: sem clichê.

O engraçado é que a obra, no começo do livro, anda aos trancos e barrancos e no decorrer de sua narrativa, ela ganha forma e conteúdo. Ao ponto de fazer estremecer, ou chorar quem a lê. Acredito que seja pelo fato de o leitor se incorporar mais ao texto do que o contrário, progressivamente.

O riso dos idiotas, Há-ha-ha - nada é mais gratificante que isso. E toda vez que eu conseguir arrancá-lo terei um súbito prazer. Faz-me sentir vivo e estupidamente rico de atitudes invariáveis.

Marcelo Luna
Enviado por Marcelo Luna em 22/08/2009
Código do texto: T1768241
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