VERDADE E APARÊNCIA DE VERDADE - A REPÚBLICA - PLATÃO

É necessário saber a diferença entre verdade e aparência para distinguir os conceitos de justo e injusto. Enquanto o injusto tem a fama de justo porque convence e recebe honrarias, o justo se passa por injusto por não recebê-las, caso contrário não saberia se é justo pelas honrarias ou pela aparência. Mantendo uma boa educação da alma o homem fica distante de cometer injustiças.

Para avaliar se é mais feliz quem pratica a justiça ou a injustiça, deve-se imaginar, hipoteticamente, o homem mais justo e o mais injusto que existe. A condição ideal é que cada um consiga discernir esse conceito.

A diferença entre verdade e aparência é objeto de análise no Livro X de Platão, que propõe uma reflexão a respeito da mímese, ou seja, imitação da aparência das coisas. A mímese projeta uma ilusão a ponto de se esquecer o senso de realidade, a razão. Assim, Platão discute a não aceitação da poesia de caráter mimétrico, que causa a destruição da inteligência dos ouvintes, exceto para aqueles que conheçam sua verdadeira natureza.

Faz-se necessário conhecer alguns conceitos preliminares antes de entrar na questão da mímese propriamente dita. Primeiramente, a concentração tem que estar voltada para o conceito de idéia, ou seja, a verdade. A verdade é uma só e portanto, caso haja duplicidade de ocorrência, não se caracteriza como verdade. A ocorrência pode ser definida como uma aparição acerca da verdade, nesse sentido também não é real pois são várias as ocorrências da idéia. Como a mímese é a representação de uma aparência, pode-se afirmar que está três pontos afastada da verdade. Por exemplo, uma cadeira constitui uma idéia, a confecção da cadeira é uma ocorrência da verdade e a pintura constitui a mímese.

Assim, a poesia de caráter mimético é uma mera aparência da idéia e corrói a honestidade, pois excita o que há de pior no ser humano – a irracionalidade. Não discute a racionalidade de uma série de questões, fazendo com que não se pense na realidade. Os poetas são imitadores da imagem, portanto também não atingem a verdade.

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 20/06/2006
Reeditado em 30/10/2009
Código do texto: T178989
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