Deus na visão de um homem comum (6ª Parte)

A considerar os diferentes níveis de consciências anteriormente citados, se tivéssemos de eleger um propósito para a vida Humana esse seria, sem dúvida, como também reconhecia o Padre Theilhard de Chardin (1881-1995), a expansão da consciência.

Para ele, a cada forma mais complexa de vida corresponde um novo nível, mais elevado, de consciência. Chardin propôs um quadro geral da evolução das espécies baseado no princípio da conscientização, que tem seu início a partir do reino mineral, na “pré-consciência”, e culmina no que ele chamou de “Ponto Omega”, ou a conscientização Humana do “Cristo Cósmico”, ou “Cisto Interno”.

Para conhecermos os vários níveis da Consciência aos quais estamos sujeitos, portanto, será bom saber que a diferença fundamental entre a consciência animal e a desumana, por exemplo, é que a desumana é perversa, “diabólica”, ou seja: utiliza ainda todo o seu potencial racional de forma destrutiva, uma vez que subordinada aos instintos, inevitavelmente bestiais, que ainda nos persistem o domínio do que devemos desejar à conquista de nossa condição Humana. Considerando suas representações mítico-pictóricas, expressas ao longo da história das artes plásticas, é simplesmente um demônio, sendo uma de suas muitas primitivas apresentações munida de chifres numa cabeça humana, calda e patas.

Entre o nível desumano e Humano da Consciência (Consciência aqui, é bom lembrar, considerada como reflexo do “Deus” que em nós se desenvolve à plena percepção e construção de Si mesmo), há o pré-Humano, condição da maioria dos habitantes do planeta Terra, sendo seus pouquíssimos representantes genuinamente Humanos “pré-divinos”.

Um dos exemplos menos notáveis de realização da consciência Humana na Terra foi Mahatma Gandhi (1869-1948); menos notável em relação a Jesus, não apenas por sua superioridade evidente (uma vez que Jesus nunca foi advogado, embora informalmente tenha sido tudo), mas também graças ao potencial de mídia e poder aquisitivo da igreja cristã, que tornou o Nazareno uma representação absoluta de toda sabedoria do Oriente entre nós ocidentais – apesar do aumento atual do conhecimento geral do ocidental sobre outras personalidades orientais de inegável apresentação divina.

Ao contrário de sobrepujar a história cristã, entretanto, ou diminuir a importância de Jesus como Humano pré-divino apresentante, tais outras interpretações dos estados do Ser apenas reforçam a autenticidade dos registros sobre Sua presença na História como íntegros exemplares da espécie de seres que queremos ver administrando a Vida neste planeta em algum momento do presente-futuro. Porque como está escrito, um belo dia tudo deverá ser “assim na Terra como no céu”.

Ao provocar em vocês as reflexões e sensações ou, mais ordenadamente colocado, as sensações e reflexões que, no mínimo, ora poderão lhes causar algum calafrio (porque ficou claro para mim que, apesar dos muitos complementares movimentos dialéticos, que nos estimulam reflexões e conclusões, primeiro sentimos para que somente depois possamos saber), não pretendo aqui nos tornar mais temerosos e, conseqüentemente, mais providencialmente convenientes do que, ainda como meros sobreviventes neste mundo confuso, demonstramos ser no dia-a-dia. Também não pretendo provocá-los a excessiva desvalorização substancial da importância de suas próprias vidas, de tudo o que materialmente valioso representam, em detrimento da consciência de que, incontestavelmente, maior que tudo é a monumental Vida que, apesar das constantes ameaças de aniquilação da Morte (às vezes auxiliada pela ignorância e pela violência destrutiva de alguns desumanos), está eternamente em combustão a Se doar à realização material-consciente de Sua própria existência.

Afinal, foi-nos avisado por Jesus: “conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

Agora, gostaria de pedir-lhes que realizemos uma oração.

...

Tenho certeza que, nestes breves trinta segundos em que ficamos em silêncio, muitos foram os pedidos, os agradecimentos, as interrogações, as exclamações, os anseios, as dúvidas, enfim, e sobre por que, ao contrário da maioria das orações que fazemos em grupo, aqui não dizemos nada.

Um dos filósofos mais importantes no âmbito das investigações sobre os divinos relacionamentos foi o filósofo dinamarquês Emanuel Kierkegaard (1813-1855). Uma de suas observações mais interessantes é que orar não é pensar, ou falar qualquer coisa a “Deus”, seja um pedido ou um agradecimento, mas procurar estabelecer em nossas mentes, em nossas consciências, o mais absoluto silêncio, até que possamos ouvir Sua “voz”.

Para Kierkegaard – bem como para a grande maioria das pessoas, ainda que não saibam ou não admitam isso – não é tanto a comprovação da existência de “Deus” o que lhe importa, mas “pensar a certeza sobre Sua existência”. Afinal, pensar que “Deus” existe o impulsionava, como a muitos de nós, para reagir de certa forma em relação ao sentido de sua própria existência.

Mais uma vez a Arte nos dá uma boa lição disso.

No livro O Mágico de Oz, do escritor norte-americano Lyman Frank Baum (1856–1919), o homem de palha, o homem de latão e o leão covarde mudam o curso de suas vidas porque crêem na existência de um “Mágico de Oz”. Porém, no final, descobrem que este mágico é, na Verdade, uma pessoa comum.

Em relação ao aspecto total da Verdade – naturalmente não de uma ou outra de Suas características, mas em sua dimensão absoluta – lembro-me de uma expressão popular que usamos quando queremos prevenir alguém para que se prepare, pois temos que lhe dizer algumas Verdades de forma “nua e crua”.

Aqui será interessante discorrer um pouco sobre o sentido dessa expressão.

Se atentarmos para ela, sentiremos como é significativa a nos alertar para quão confortavelmente mentiroso e ilusório se tornou, com suas belas aparências adornadas pelos movimentos transformadores da imaginação e das artes ao desenvolvimento das culturas, aquele que apropriada e justamente devemos reconhecer nosso mundo.

Para vermos a Vida em toda a sua Realidade, contudo – o que nem sempre atrai o desejo e a atenção da maioria – poetas místicos freqüentemente nos instigam a atentar para a “nudez” como Se nos apresenta a Vida.

A Verdade “nua e crua”, portanto, é a Verdade sentida sem o filtro de qualquer artifício conceitual e/ou formal utilizado pela imaginação e pela Arte, sendo ela nada mais que o recurso de nossa capacidade de transformar a Natureza selvagem, onde ainda nos incluímos, adaptando-a (e adaptando-nos) aos nossos mais convenientes exercícios de civilizada sobrevivência.

CONTINUA