A HISTÓRIA COMEÇA NO ÚTERO

A HISTÓRIA COMEÇA NO ÚTERO

A sociedade moderna acusa a Bíblia de ter um conteúdo machista. Olhando-a de relance poderíamos até inclinar a essa afirmação.

Há alguns anos atrás, estava um grupo de pessoas recebendo orientação motivacional, dada por uma psicóloga, na oportunidade foi citada a Bíblia, numa perspectiva preconceituosa. A palestrante tinha dificuldade de entender o conteúdo bíblico e a missão principal destinada pelo criador ao sexo feminino.

Perguntamos: Quais as mulheres na história sagrada que mudaram o rumo da sociedade, através de feitos heróicos e históricos? Ao vasculharmos as páginas da Bíblia, encontraremos uma ou duas..., talvez mais alguma.

Uma dessas que fez a história acontecer, foi à juíza, pastora e profetisa de Israel, chamada Débora. Essa brava mulher que libertou a nação do jugo estrangeiro.

O livro dos Juízes diz: “Débora, profetisa, Mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo. Ela atendia debaixo da palmeira de Débora, entre Rama e Betel, na região montanhosa de Efraim. E os filhos de Israel subiam até ela a juízo”. (Jz 4.4-5).

Débora sabe a arte da guerra, ela é uma estrategista bélica... Ela se inclui na história como agente: Heroína e mãe da nação. O guerreiro Baraque admite que só fosse à guerra se essa extraordinária mulher fosse. “Se fores comigo, irei; porém se não fores comigo não irei”. (Jz 4.9). Subiram de quedes a comitiva de Baraque: A tribo de Naftali e |Zebulom Com Débora. (Jz 4.10). A nossa guerreira diz ao seu companheiro de guerra: “o Senhor entregou a Sísera nas tuas mãos...” (Jz 4.14). Isso é prova de liderança e nome na história.

Jael é também o nome de uma corajosa e destemida mulher. Na fuga, o corajoso e derrotado Sísera chega à casa da nossa astuta guerreira. Jael acolhe o valente e vencido, Sísera. Com conforto e alimentação Jael acolhe o líder militar e depois o mata, com uma lasca de madeira, penetrada na fronte, com ares de crueldade e violência. (Jz 4.21).

Citemos a rainha Éster, que em um período de cativeiro do povo de Deus, foi orientada pelo primo e padrasto a candidatar-se à vaga de esposa do monarca Persa. (Éster 2.7). Essa brilhante mulher cravou o seu nome na história, não tanto pela sua bravura e força, mas pela sua feminilidade e beleza. Éster foi garantia de vida de todo o povo sofrido e sem voz no exílio, longe de sua terra.

Porém os feitos masculinos são imensuravelmente incomparáveis. A figura masculina entra nas páginas da Bíblia como heróis de guerra. Suas sagas são admiradas, são cantadas, oradas... estão nos versos e nas prosas. Como equiparar os feitos de Noé que faz uma arca e salva a humanidade da derrocada final? Ou, com os feitos de Abraão. Homem de fé, que larga toda a sua familiar e engaja numa nova proposta de vida. Vence os adversários, enriquece, constitui uma família, torna-se pai de todo o oriente. Nesta lista de homens, como esquecer de Moisés? Homem celebrado pelo contato com o sagrado, pelas leis recebidas; por ser um condutor, líder último da nação. Citando o escritor da epístola aos Hebreus diz: “...me faltará tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de sanção, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas...” (Hb 11.22).

Olha os exemplos! Esse Deus da Bíblia é unilateral, é machista; ou a Teologia judaico-cristã resolveu privilegiar o sexo masculino!

Afirmamos com segurança e convicção, que Deus não deu privilégio ao sexo masculino, mas dotou a mulher com a capacidade de ser geradora da história. A mulher é proto-história! Ela é incubadora dos fatos históricos. A mulher precisa olhar o valor da maternidade em meio a essa sociedade que vive e necessita de holofotes focados em sua face. Á mulher coube o maravilhoso dom de gerar vida. Isso é divino!, é glorioso! Enfim, fantástico!

Como mãe á mulher tem primazia nos textos sagrados. Ela é única naquilo que faz. A história acontece no sexo feminino a partir de dentro. A história começa no útero materno. Portanto a mulher vive o proto-agonismo-histórico.

Conta o missionário sueco, Erick Gunnar Eriksson, que foi o desbravador das Boas Novas no norte mineiro, mas especificamente na cidade de Montes Claros; que ele é fruto da oração da sua mãe.

Conta o citado missionário que por volta da década de trinta, após sua mãe ter perdido uma criança; ela orava a Deus para abençoar sua madre, pois queria ter uma segunda oportunidade de gerar um filho. Algum tempo depois aquela mulher se achou grávida. Foi contar as novas ao marido, porque estava muito feliz com o ocorrido. Toda aquela atmosfera contagiou a família. Essa gestante desejava anunciar o Reino de Deus mundo afora, e por diversas circunstâncias não poderia fazê-lo. Num daqueles invernos rígidos, dos países baixos, no norte da Europa, essa mãe estava debaixo de uma árvore fazendo a seguinte oração: “Oh, Senhor, sei que não posso sair do meu país e anunciar o teu reino ao mundo; mas entrego o meu filho Ti, como um homem às nações... Senhor ele é para a Tua obra... amém”. Aquele filho é hoje o missionário Erick Gunnar. A taltemissiönem (missões em tendas) está presente em mais de quinze nações, em todos os continentes. Essa mulher esposa e mãe fizeram à história, ela é proto-agonista, o filho é apenas protagonista; ela gerou a história o filho apenas executou.

Quando ocorreu a queda da humanidade no Éden, o homem recebeu as conseqüências da desobediência; contudo o ser humano não perdeu totalmente o seu poder de governar. Em meio a muita tristeza e desespero, Adão (barro) olhou para a mulher e disse: “Vida! (Eva) seu nome é vida, pois é a mãe de todos os seres viventes” Gn 3.20. (paráfrase e grifo do escritor). O sexo masculino vive a história, mas a mãe foi quem a gerou, toda mãe é proto-agonista da história. Portanto observamos que a maternidade produz a história, produzindo-a no seu útero; ainda que o holofote esteja no filho. Mãe faz história, multiplicando a vida, que vive dentro de si.

Listemos alguns exemplos bíblicos de mulheres que mudaram a história, não com espada, com guerra, com vestes sacerdotais; mas com o útero.

Sara a mulher de Abraão, foi surpreendida na sua velhice, pois, não mais menstruava. Quando as esperanças de tornar-se mãe, esvaíram-se. Deus envia anjos e anuncia à Abraão: “daqui a um ano, voltarei e sara, tua mulher dará luz a um filho...” (Gn 18.10). Sara sorriu: “riu-se, pois, Sara no seu íntimo, dizendo consigo mesma: depois de velha ainda terei prazer” (Gn 18.12). Riu da sua velhice, rio da palavra do anjo; mas também riu porque seria uma mulher realizada na sua natureza, na sua psicologia, nas suas emoções... Riu porque seria mãe, porque o seu útero produziria a partir daquele momento a história. Quando o filho de Sara nasceu, todos ficaram em estado de graça. Após aquela reunião tradicional, o velho Abraão olha para a sua felicidade, e da esposa e diz: “esse menino será chamado de sorriso (Isaque)”. Gn 21.3. Um filho faz uma mulher sorrir, porque é uma realização pessoal e psicológica.

Ana é uma outra mulher que vivia a amargura de ter o útero infrutífero. Ana era a mulher amada do seu marido. O seu esposo devotava sempre as melhores coisas, contudo a sua rival a desprezava, porque ela nunca dera um filho a Elcana. “Tinha duas mulheres: uma tinha filhos. Ana, porém, não os tinha” (I Sm 1.2). Quem poderia imaginar a dor de Ana? Elcana, num daqueles dias de tristeza de sua amada, tenta consolar. O pobre esposo, não entendia que o assunto era por demais sério. As boas intenções do marido jamais alcançariam uma alma feminina desprovida de fecundidade, de maternidade. Ele faz uma observação infeliz e infantil, ainda que com boas intenções. Diz: “Por que choras? Não te sou melhor do que dez filhos” I Sm 1.8. Pobre Elcana! Como consolar Ana? Ele não tem útero. Daí a sua presunção. Nada substitui na mulher a maternidade, é uma necessidade sine qua non no universo feminino.

Todo ano Elcana e Ana subiam a Silo afim de encontrar com o sacerdote Eli e prestar o seus sacrifícios. Em um daqueles dias estava Ana orando. A oração daquele dia era diferente. “ demorando ela no orar perante o Senhor, passou Eli a observa-lhe o movimento dos lábios” A angústia de Ana era tanta, que o sacerdote Eli a tem por embriagada, tal a dimensão da aflição daquela mulher. O sacerdote nunca tinha visto uma oração para gerar vida. Coitado de Eli! Como poderia entender uma mulher que não gere vida dentro de Si. Jamais poderia entender, pois não tem útero. (eu nunca entenderei a dor daquela mulher).

Ana na sua angústia faz um voto ao Senhor: “Senhor se atentares para a aflição da sua serva, e deres um filho varão (protagonista da história) ao Senhor darei todos os dias da sua vida” I Sm 1.11. Deus entende Ana, e aqui eu não sei mais se Deus é pai ou mãe. (desculpe os teólogos enrijecidos). Atende O Senhor o choro de Ana e dar lhe um presente: Filho.

O hábito devocional de ir ao sacerdote de ano em ano continuou, só que agora Elcana ia sozinho, pois Ana agora era mãe! tinha filho para cuidar. O menino Samuel estava desmamado e chegara o momento de devolve-lo ao Senhor. Que dor aquela mãe sentia! Contudo depois de alguns anos cuidando do filho chegara agora o tempo de subir com o seu esposo e filho ao sacerdote no lugar de adoração. Estava a levar Samuel para entregar a Deus; como expressão maior de gratidão. Aquela mão sabia que o Criador é também um pouco e capaz de entender o que é gerar vida. Ana diz a Eli: “Eu sou aquela mulher que esteve aqui amargurada, (não estou mais amargurada pois tenho um filho para dedicar a Deus) pelo que o trago como devolvido ao Senhor, por todos os dias que viver; pois do Senhor o pedi. E juntos adoraram ao Senhor”. I Sm 1.27,28.

Mulher que tem útero fértil, é mulher que ora cantando. É mulher que a vida tem sentido. Asua existência tem luz diferenciada. É grata por ser geradora de vida; por ser realizada como pessoa no nível máximo. Ana canta com a sua alma: “o meu coração se regozija no Senhor e minha força está exaltada (o meu heroísmo e ser mãe) no Senhor; a minha boca ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na minha salvação...”. I Sm 2.1...

Após entregar o seu filho, Ana continuou a ir as celebrações com o seu marido. Todo ano Aquela mulher realizada, levava uma túnica nova ao seu filho, que agora vivia com o sacerdote Eli, em Silo. Samuel era sacerdote, que vestia a túnica, roupa do sacerdócio confeccionada pela progenitora.

Aqui identifico com Samuel, pois cresci vestindo as roupas que a minha mãe fazia, pois ela era costureira. Quanta noite mãe ficava ao lado da sua velha máquina de costura, que eu conheço desde que entendi que sou gente. Cada pedalada na sua velha máquina costurava um pouco a roupa sacerdotal do filho. Dava toda a sua energia amorosa, visando o bem estar do filho que hoje é “sacerdote”. Tem poucos anos que deixei de vestir as roupas feitas pela minha mãe. Por certo, minha mãe tem algo em comum com a mãe de Samuel.

Jamais poderíamos esquecer da mãe do Senhor Jesus. Maria é aquela que recebeu a visita do Anjo Gabriel, trazendo boas notícias. Ela achou favor, foi favorecida por Deus e recebeu o anúncio de uma gestação miraculosa e única na história.

Deus não fez a Maria uma proposta de ser uma guerreira, uma líder religiosa, uma libertadora da nação judaica, que estava subjugada pelo Império Romano; não! a proposta feita a serva do Senhor, foi irrecusável: foi a de ser mãe. Toda mulher tem o sonho de ser mãe, e realizar-se através da maternidade. Como ignoraria Maria, tão grande missão?

Por isso Maria dá o “sim” a si e ao Senhor dizendo: “aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra...”. Lc 1.38.

Qual a mulher que mudou a história do mundo? Maria construiu a história com o útero. Maria não salvou a ninguém e nem salva, Maria não justifica ninguém do pecado; A história da salvação inicia-se, não com o batismo de Jesus, ou o seu nascimento; mas na sua concepção. A salvação manifestou a partir do ventre. Mais uma vez o útero faz nascer história. A mulher constrói, é proto-agonista da história; mas ao sexo masculino compete ser protagonista.

Olha Maria este menino será o protagonista da história, Ele será chamado filho do altíssimo, reinará no trono de Davi e o seu reinado não terá fim. (Lc 1.32,33). (paráfrase). Essa foi a mulher que conviveu com Jesus do nascimento até ao calvário; quando ele disse: está consumado.

Como o mundo moderno entende o valor do útero? Abortos são feitos todos os dias, gravidez interrompida sem a menor justificativa clínica. A história tem perdido, porque tem morrido antes de nascer. mulheres têm negado ao mundo a melhoria, pois deixaram de ver como bendito o fruto do ventre. Úteros fechados, lacrado em nome da estética, em nome da economia, por causa da irresponsabilidade com o sexo fora dos padrões sagrados da família. A história precisa de barrigas férteis. Precisa de espaço para existir, precisa de mulheres dispostas a discutir e redescobrir o valor de ser mulher e mãe da história; pois afinal a historicidade na mulher é proto-uterina.