Velórios

São os velórios. São eles os espaços mais lúcidos da sociedade. Neles nos desarmamos, nos despimos das vaidades, retiramos a maquiagem. Nesse espaço, somos o que somos. Se assim não for, seremos mais doentes do que imaginamos. Para uma minoria, composta dos íntimos, o velório é uma fonte de desespero. Para uma maioria, composta dos mais distantes, uma fonte de reflexão. Para ambos, a verdade é crua: tombamos no silêncio de um túmulo não como doutores, intelectuais, líderes políticos, celebridades, mas como frágeis mortais.

Essas palavras me fizeram ver que era nos velórios que deixávamos de ser deuses e entrávamos em contato com nossa humanidade, deparávamos com nossas loucuras e enxergávamos nosso anti-heroísmo. Nos velórios, nós, os normais, fazíamos intuitivamente uma socioterapia.

Não lhes peço que silenciem sua dor, mas que silenciem o desespero. Não espero que estanquem suas lágrimas, mas estanquem os altos níveis de angústia. A saudade nunca é resolvida, mas o desespero deve ser aquietado, pois não honra quem partiu.

O Mestre dos Mestres quis demonstrar que o velório pode ser um ambiente de lágrimas, mas deve ser acima de tudo um ambiente saturado de elogios e recordações solenes. O luto deve ser um ambiente perfumado, uma homenagem para quem partiu. Um ambiente para contar seus gestos, declarar suas reações, comentar suas palavras. A maioria dos seres humanos tem algo para ser declarado. Por favor, contem-me os feitos desse homem! Declarem o significado dele na vida de vocês. Seu silêncio deve alçar vôo de nossa voz.

Augusto Cury

Emanoel Alencar
Enviado por Emanoel Alencar em 15/03/2011
Reeditado em 14/07/2011
Código do texto: T2849453