TENHO MEDO

Tenho medo

Vivemos no mundo dos medos. Foi-se o tempo em que crianças podiam brincar nas ruas, que os seus pais com os vizinhos sentavam para algumas horas de boa prosa, que as pessoas iam à noite namorar nos bancos dos jardins. Alguns anos atrás, os jovens iam até um jardim lindo, geralmente no centro da cidade, e ficavam dando voltas paquerando, comendo pipocas. Hoje estamos com medo, nos encerramos em jaulas como bichos, a começar pelas nossas casas quem têm aspecto de campo de concentração com os muros altos, cheios de concertinas, aqueles arames de aço em forma de círculos; outras com cercas elétricas e câmeras.

Os lugares lindos com jardins e ruas tranquilas deixaram de ser nossa habitação e passaram a ser habitação dos lobos que ficam à espreita para atacar. Eu me pergunto: o que adianta um mundo de construções tão belas produzidas pela nossa sociedade se podemos usufruir tão pouco, condenados pelo medo?

Lembrei-me de um texto narrado por Jesus no contexto da Palestina: Havia muitos pastores que cuidavam e, se preciso fosse, davam suas vidas pelas ovelhas. Eles as protegiam dos lobos que podem ser comparados aos ladrões de hoje. Eles vêm senão para matar, roubar e destruir. Jesus, vendo essa cena, compadeceu-se das ovelhas, pois andavam errantes como quem não tem pastor. Quer saber? Sinto-me assim diante de um Estado que cobra vários impostos de nós, ovelhas, prometendo guardar-nos e proteger-nos dos lobos. Mas nós, como se fôssemos pobres ovelhas, estamos à mercê de sermos devorados sem que quase ninguém faça nada. O pastor existe para proteger as ovelhas e tirar-lhes os medos dos lobos. Pelo jeito, estamos com falta de pastores, estamos amedrontados... Se tivéssemos pastores, os lobos estariam trancados, e as ovelhas poderiam recitar seu salmo: “Guia-me mansamente às águas tranquilas, refrigera a minha alma, leva-me aos pastos verdejantes, ainda que eu ande pertos de lobos não temerei nenhum mal, porque o pastor me protege, me dá segurança para andar pelas ruas, praças, avenidas, eu não tenho medo de ser assaltado, se for assassinado, o pastor é o meu protetor”.

Que bom se pudéssemos exclamar essa melodia!... Mas sem o pastor estamos vivendo ao contrário, pois os lobos estão soltos à vontade e as ovelhas, estas vivem nos piquetes trancadas, comendo feno, dietético, pois há muito elas não sabem o que é ser livre, ter liberdade. Dizem que somos, que fazem reunião aqui, quando um acontecimento grave acende o arraial. Logo vêm os faz-de-conta que falam coisa ali, outra aqui e as ovelhas estão novamente em perigo.

Antigamente, os lobos olhavam, sondavam e viam que os pastores protegiam as ovelhas. Então, não arriscavam suas investidas, pois o pastor “ Supremo”, O Estado garantia as ovelhas. Hoje elas estão cheias de carrapichos, com suas lãs grandes, gordas e confinadas. Sem proteção nenhuma são presas fáceis para qualquer lobo.

O Estado se tornou um ineficiente, com seu cajado mole não é mais perigo para os lobos. No Estado mais rico do país, que arrecada mais impostos, continuo pastando meu feno a pensar que poderá ser meu último jantar se pastores não se levantarem para cuidar dessas ovelhas que têm ido para os matadouros da vida sem abrir a boca. Até quando seremos ovelhas que pastam mansamente à espera da proteção?

J.F.Alvarez Julho de 2011

jafjaf
Enviado por jafjaf em 14/07/2011
Código do texto: T3095269