GÊNEROS DO DISCURSO E GÊNEROS TEXTUAIS: marcos teóricos e definições

GÊNEROS DO DISCURSO E GÊNEROS TEXTUAIS:

Marcos teóricos e definições

Marcuschi (2008) expõe que os gêneros discursivos não são novidade, pois vem sendo estudados desde a tradição clássica, sobretudo, na poética de Platão e, posteriormente, na retórica de Aristóteles. Porém, encontra-se o grande marco teórico dos gêneros discursivos nas teorias de M. Bahktin, o qual influenciou muitos outros estudiosos da área. Como o próprio Marcuschi assinala, Bahktin fornece os subsídios macroanalíticos e categorias mais amplas, além disso, é uma espécie de bom-senso teórico em relação à concepção de linguagem, por isso é assimilado por todos (MARCUSCHI, 2008, p. 152).

Em sua obra Estética da criação verbal, Bahktim apresenta os gêneros do discurso, orais ou escritos, como meio ou a condição pelo qual as pessoas em suas diversas atividade utilizam para se comunicar dependendo da necessidade que é motivada pelo meio. Tais gêneros se formam a partir de enunciados oriundos dessas necessidades que se cristalizam, padronizam-se ou ganham forma. Contudo, embora os gêneros discursivos sejam sujeitos a padronização, não são estanques, pois podem renovar-se e até serem criados novos gêneros que tomam o lugar dos anteriores no processo enunciativo/dialógico.

Para Bahktin, os gêneros do discurso são heterogêneos, porque um gênero, como, por exemplo, o científico integra diversos outros gêneros dessa modalidade. O estudioso ainda os classifica de dois modos: primários e secundários. Os secundários são gêneros do discurso complexos relativos a contextos mais bem organizados e elaborados, como exemplo: o romance, dramas, pesquisas científicas etc. No uso destes, nasce a necessidade de uma comunicação imediata, nesse caso, os primários que são considerados gêneros do discurso simples, os quais fazem parte do uso cotidiano, como a carta pessoa, diálogos, relatos etc.

Atualmente Marcuschi tem-se mostrado como um importante estudioso a respeito dos gêneros. Em sua perspectiva, Marcuschi defende a tese de que, comunicar-se por meio de algum gênero do discurso é utilizar obrigatoriamente algum tento, por isso, ele passa a utilizar o termo gêneros textuais. Não que, segundo ele, haja divergências entre este e aquele, pois essas expressões são intercambiáveis, porém, o uso do termo gêneros textuais se faz necessários na identificação de fenômenos específicos.

Consoante a Bahktin, para Marcuschi os gêneros não são formas linguísticas estanques, mais meios de se realizar objetivos linguísticos. A fim de organizar o entendimento acerca dos gêneros textuais, Marcuschi (2008, p. 154-155) classifica-os e os define da seguinte forma:

1) Tipo textual: o tipo textual está ligado a uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição. Mais do que sequências linguísticas são textos materializados. Em geral, abrangem três categorias: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.

2) Gêneros textuais: dizem respeito aos textos materializados e padronizados em contextos comunicativos, amplamente utilizados no cotidiano e apresentam em si indícios de sociointeração e de constituição sócio-histórica. Dessa forma, apresentam-se alguns exemplos: telegrama, sermão, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem etc.

3) Domínio discursivo: no sentido bahktiniano, constitui “a esfera da atividade humana” com o qual se pode classificar os textos, indicando instâncias discursivas, por exemplo: discurso jurídico, discurso jornalístico, político etc.

Com essas definições e subsídio oriundos de Bahktin, Marcuschi evidencia nos gêneros do discurso uma área fértil para a realização de pesquisas. Nesse sentido, o autor observa características que resultam em afirmar que os gêneros textuais são de fato muito dinâmicos, não se opõe, são complementares e integrados, portanto, não subsistindo isoladamente um do outro. Nesse sentido, o autor mostra, por exemplo, que em uma carta pessoal podem estar contidos diversos tipos textuais, além de outros tipos de gêneros, formando um gênero hibrido. Por conseguinte, essa carta, segundo o autor, perde o status de “gênero textual carta”, não comportando uma denominação precisa.

Outro aspecto acerca dos gêneros do discurso preconizado Bakhtin, enfatizado por Marcuschi (2008) é o fato dos gêneros fazerem parte da vida cotidiana. Nesse sentido, exercem sobre a sociedade um meio de controle, eles realizam atos como fosse uma “máquina macrosociodiscursiva”, como diz o autor:

Assim, podemos dizer que o controle social pelos gêneros discursivos é inconornável, mas não determinista. Por um lado, a romântica ideia de que somos livres e de que temos em nossas mãos todo o sistema decisório é uma quimera, já que estamos imersos numa sociedade que nos molda sob vários aspectos e nos conduz a determinadas ações. Por outro lado, o gênero textual não cria relações deterministas nem perpetua relação, apenas manifesta-as em certas condições de suas realizações (MARCUSCHI, 2008, 162).

De acordo com as palavras do autor, os indivíduos são levados a utilizar os gêneros que são moldados no seio da própria sociedade, e faz-se isso de forma até mesmo inconsciente. Embora, se tenha a competência de utilizá-los, em certas circunstâncias, há gêneros que a sociedade legitima e que somente pessoas específicas têm poder para proferi-los ou redigi-los. É o caso da sentença do juiz, as palavras do juiz de paz, um porte de arma, um diploma etc.

Deve-se destacar ainda algo de natureza complexa que é a questão entre o suporte e o gênero. Segundo Marcuschi (2008) deve-se ter cuidado ao utilizar esses dois termos para fazer classificação, por exemplo, do um jornal, de um livro, de uma embalagem para não se equivocar no uso. A fim de desfazer esse problema, o autor expõe que o livro representa o gênero, todavia o suporte ou o meio material que o condiciona a circular em sociedade é o papel. Portanto, da mesma forma deve-se prestar atenção em relação a outros gêneros, uma vez que podem ser afixados em diversos tipos de suporte que é o meio material e físico.

Em síntese, nota-se que Marcuschi (2008), ao apropriar-se da noção de gêneros do discurso preconizado por Bakhtin (2003), aquele autor deu um tratamento especial ao enfatizar a função de tais gêneros na vida social. Pois se descobriu a complexidade contida no seu uso, como por exemplo: a intergericidade que é a imbricação dos gêneros, dos tipos e dos domínios em um mesmo gênero; outro é a forma de controle que eles exercem sobre os indivíduos. Ainda outro é a questão do suporte como meio de circulação do gênero. Um gênero pode ser afixado em diversos suportes, por exemplo, uma carta ao público pode ter como suporte: o papel, a televisão, o rádio, outdoor, uma embalagem etc.

Referências

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal, 4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

LeandroFreitasMenezes
Enviado por LeandroFreitasMenezes em 08/08/2011
Código do texto: T3146368
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