Mais um Aniversário dos Biólogos Brasileiros

Mais um Aniversário dos Biólogos Brasileiros

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Meus amigos e colegas de profissão, hoje estamos aqui mais vez comemorando o nosso dia e eu aproveito o momento, como sempre, para dirigir algumas palavrinhas aos Senhores. Nesse exato momento estamos vivendo uma crise sem precedentes na História da Humanidade, vivemos um tempo em que as grandes catástrofes têm se acentuado drasticamente, mudando a cara do planeta de forma significativa e mudando bastante os ambientes naturais e principalmente as obras antrópicas desenvolvidas ao longo da curta história antrópica na superfície da Terra. O pior é que está parecendo que somente agora a humanidade começa a descobrir que não pode vencer a força da natureza.

No meio desse caos é possível distinguir fundamentalmente dois grupos distintos de países. No primeiro grupo estão os países que já se manifestaram ativamente na busca de soluções, pois finalmente entenderam que a Terra, pelo menos até aqui, é um planeta único e que todos os recursos naturais que utilizamos são retirados exclusivamente dela. No segundo grupo encontram-se aqueles países, cujo objetivo é continuar produzindo atividades degradadoras e favorecer cada vez mais as catástrofes que têm ocorrido. Nesses países só se pensa em dinheiro e assim só se prioriza a economia. Infelizmente lucro e consumo são as palavras de ordem para os países desse grupo, o planeta e a vida pouco importam.

O Brasil, considerando vários aspectos, infelizmente parece se enquadrar mais no segundo grupo. Parece que esquecemos que o Brasil é um “lugar chave”, devido a nossa grande área, a nossa posição geográfica planetária, a nossa grande quantidade de recursos naturais, mormente dos recursos hídricos e da nossa mega biodiversidade. Temos costumeiramente andado na contramão da história e por isso os problemas sociais e ambientais têm se ampliado drasticamente no país.

São inúmeras Usinas Hidrelétricas absurdas e sem nenhum critério ou planejamento; Transposições ilógicas e inconsequentes para justificar interesses escusos; criações de entes político-administrativos em benefício de segmentos políticos e sem nenhum critério fisiográfico que possa justificar a criação; desenvolvimento de obras viárias de todos os tipos sem nenhuma preocupação ambiental, desrespeitando as legislações e as populações locais. Em suma, ocorre um grande descalabro, porque essa corja que se instalou nos poderes políticos e administrativos do país brinca com toda a população para conseguir enganar os menos favorecidos e na verdade ela só está preocupada mesmo em tirar um pouco mais de dinheiro dos cofres públicos para si mesma.

A corrupção no governo é geral e o povo se associou a ela, já admitindo que é assim mesmo e que todos devem roubar também. Na nova moral instalada, o honesto agora e ser desonesto. Enfim, um caos social, ambiental e principalmente moral está instalado na nação brasileira, que desconhece os direitos e deveres da justiça e da legalidade como forma de conduta social e que prefere a “Lei de Gérson” na busca de vantagens. Há um forte comprometimento com o individualismo e as comunidades estão cada vez mais degradadas, bem como suas áreas físicas, seus espaços ambientais, por conta do total abandono.

A ONU decretou que este ano de 2011 é o Ano Internacional das Florestas e aqui no Brasil, exatamente nesse ano, nós estamos prestes a aprovar o maior absurdo da Terra que é o “Novo” Código Florestal, já aprovado na Câmara e agora tramitando no Senado Federal. O “Novo” Código Florestal só é novo na idade, porque é arcaico na sua concepção teórica, nos seus objetivos e na sua funcionalidade. Estamos brincando com fogo e pensando apenas no lucro e no maldito dinheiro para alguns. O país, o povo e a nação brasileira em geral, que se danem.

Alguns de nós brasileiros, principalmente nós Biólogos, por força de nossa formação, obviamente não concordamos com esse estado da arte que se apresenta. Entretanto, nossa força ainda é muito pequena, quase insignificante, perto do rolo compressor que passa pela nação brasileira e por isso mesmo sabemos de nossa limitação. Por outro lado, não podemos ficar parados em cima do muro como dizem alguns, porque senão seremos arrastados também.

Não basta apenas conhecer o problema e não evitar fazer parte dele. É preciso, já que conhecemos o problema, tentar fazer parte de sua solução. E nós não podemos esperar que a solução caia do céu ou que venha de cima para baixo com os políticos que temos no comando Nacional. La em cima, a corrupção já tomou conta e as maças podres já são maioria e estão contaminando as poucas boas que ainda restam. Então, temos que fazer a revolução de baixo para cima. Comecemos pela nossa casa, pela nossa rua, pelo nosso bairro, pelo nosso município e pela nossa região, pois os absurdos lá de cima também acontecem por aqui. Vejamos alguns exemplos.

São hidrelétricas impensadas, termelétricas para beneficiar multinacionais; incêndios criminosos em Unidades de Conservação e áreas de preservação permanente para justificar o injustificável; projetos faraônicos em lugares indevidos; planos de criação de uma macrorregião administrativa para beneficiar grandes municípios e acabar com os pequenos; volta de indústrias perigosas que a região já havia rechaçado no passado; loteamentos e construções urbanas em áreas indevidas para beneficiar amigos e parentes; ocupações de áreas urbanas ocasionais sem planos diretores definidos ou mesmo com mudanças aleatórias sem os devidos critérios nos planos diretores e nas leis de zoneamento dos municípios. Enfim, acontece de tudo que é absurdo, a loucura é a mesma do cenário nacional maior e assim, a qualidade de vida da região e de sua população também não são prioridades.

Então, o que podemos fazer? O que nós Biólogos temos a ver com isso?

Cada um de nós, dentro de seu respectivo limite de ação pode fazer muito e tem que dar a sua contribuição, tem que se envolver e atuar no sentido de tentar mudar o quadro perverso em que nos encontramos. Vamos falar, gritar, escrever e publicar. Vamos lutar, brigar, xingar e debater. Vamos convencer as pessoas de que as coisas estão erradas e não podem continuar assim. Vamos intimar e exigir que os nossos principais empregados, os dirigentes políticos e administrativos dos municípios, que nós elegemos para administrar as nossas cidades e indiretamente as nossas vidas cumpram a parte deles no acordo firmado nas urnas ou que caiam fora das funções que estão ocupando. Vamos trabalhar para colocar gente séria e capaz nos poderes políticos e administrativos de nossos municípios. Vamos dar fim aos picaretas, aos embusteiros e aos políticos profissionais. Vamos tentar eleger administradores públicos cônscios de seus deveres e que trabalhem pela melhoria de seus municípios e não de seus bolsos.

Nós estamos dentro dos órgãos públicos (CETESB, SABESP, INPE, DAEE, IBAMA, ICMBIO e muitos outros). Além disso, nós estamos dentro das escolas e temos o melhor arsenal para o trabalho de mudança social que são os jovens. Vamos nos utilizar desse potencial que só nós possuímos, como professores que somos. Não podemos continuar vendo a banda passar. Temos que nos indignar efetivamente e nos rebelar tentando fazer o sistema caminhar na direção certa, na direção da vida e do progresso humano e na manutenção e desenvolvimento sustentável de nossa região, do estado e do país. O Brasil e o povo brasileiro não merecem o que está acontecendo. Mas, para resolver o Brasil é preciso resolver o Vale do Paraíba e essa é a parte que nos cabe, por que estamos aqui e podemos tentar interferir diretamente.

Nós, Biólogos do Vale do Paraíba, já somos mais de 5.000 profissionais e nesses 32 anos de reconhecimento e regulamentação de nossa profissão, pouco fizemos de atuação política e social no interesse da região. Está na hora de mudar a história. A sustentabilidade tão sonhada e proclamada por todos nós, como sendo a solução dos problemas, também passa pela nossa participação política. Ninguém vai conseguir sustentabilidade a boca para fora, porque isso mexe com os interesses de muita gente. É preciso muito trabalho para que a sustentabilidade aconteça de fato.

A zona de segurança e conforto dos maus administradores públicos e dos políticos profissionais da região tem que ser estremecida de algumas formas e penso que nós biólogos somos a grande força de resistência que ainda não acordou para essa questão. Nós somos formados e preparados para cuidar do ambiente e das espécies nele existentes, inclusive e principalmente da espécie humana, portanto somos os profissionais mais indicados para essa tarefa de chamar a atenção para os equívocos produzidos contra a qualidade de vida e o meio ambiente da região.

A grande maioria de nós nunca foi muito ligada à participação política e a militância, mas penso que está passando da hora de começarmos a agir em benefício de nós mesmos, mas principalmente em benefício das populações futuras, nossos filhos, netos e bisnetos. Precisamos tentar deixar um Vale do Paraíba melhor para aqueles que virão, pois esse é o objetivo primário da sustentabilidade: garantir que os que virão tenham um mundo melhor que o nosso. Então, vamos trabalhar apara construir esse mundo.

Por enquanto, parabéns a todos nós por mais um 3 de setembro e pelos 32 anos de profissão que hoje comemoramos, mas pensem bem no que acabo de dizer e lembrem que não há vitória sem luta. Tenho certeza que mais Biólogos envolvidos na política regional poderá ser a base que é necessária para melhorar a qualidade de vida das comunidades de qualquer região desse imenso país. Aqui no Vale do Paraíba essa tarefa é nossa. O Brasil já nasceu geograficamente grande, mas se desenvolveu a partir de comunidades pequenas e deve ser a partir dessas mesmas comunidades pequenas que o desenvolvimento deverá ter continuidade.

Obviamente não somos e não temos a pretensão de ser mágicos ou milagreiros e não vamos acabar com as catástrofes naturais, mas se trabalharmos no sentido de respeitar a natureza, minimizar os seus efeitos danosos, tentando mantê-la como aliada, deixando o lucro e o consumo para segundo plano, certamente vamos viver melhor, vamos dormir melhor, vamos rir mais e conseguiremos melhorar a qualidade de vida de nossa região e das pessoas e das demais formas de vida que aqui existem. Penso que essa é a tal felicidade que tanto temos procurado. Caminhar para ela é uma tarefa que só depende de nós mesmos e como Biólogos não podemos nos privar dessa obrigação.

Caçapava, 03 de setembro de 2011

Luiz Eduardo Corrêa Lima (55) é Biólogo (Zoólogo), Ambientalista, Escritor, Professor de Zoologia da FATEA