Discurso aos Formandos de Biologia da FATEA - 2011

Discurso aos Formandos de Biologia da FATEA – 2011

(Clube Itaguará de Guaratinguetá)

Quis o destino, ou quem sabe foi somente a vontade de vocês e eu prefiro pensar dessa maneira, que nós estivéssemos aqui nesta noite festiva. Aliás, essa é a grande questão que a Biologia e a Física tinham que tentar definir e decidir de uma vez por todas. Existe ou não destino? Desde Jacques Monod (1970), na célebre obra “O Acaso e a Necessidade”, que a Biologia decidiu por eliminar o destino e assumir o acaso, mas há quem duvide, mesmo entre os Biólogos.

Bem, não importa como, mas aconteceu que este velho Biólogo e Professor está aqui, mais uma vez, sendo homenageado como Paraninfo de uma turma de formandos do Curso de Biologia da FATEA e obviamente só me resta agradecer. Entretanto, quero discutir um pouco sobre o que penso desse fato, principalmente quando eu me recordo que me mandaram embora de outra instituição de ensino em que trabalhei, exatamente por causa disso, ou seja, pelo simples fato de eu ser um professor constantemente homenageado por meus alunos. Eu confesso que antes ficava muito preocupado com essa situação, mas agora dou gargalhadas dos invejosos e de tamanha imbecilidade e sigo em paz comigo mesmo.

Estou em paz, porque sou um profissional responsável, competente e cumpridor das minhas obrigações. Como costumo dizer, sou do tempo em que a gente precisava estudar muito para saber um pouquinho das coisas e poder ensinar ou pelo menos discutir sobre elas. Hoje, lamentavelmente, isso quase não existe mais.

Hoje um bom montador de Power Point é capaz de produzir uma boa aula se quiser, mesmo sem saber nada, ou conhecendo muito pouco do assunto que tem que ensinar, além disso, existe a lousa eletrônica ligada a INTERNET que faz praticamente tudo. Infelizmente, parece que o conhecimento hoje é menos importante do que há 40 anos, quando comecei a “brincar de tentar compreender a Biologia e seus mistérios”, quando não existia nada de Informática como ferramenta para auxiliar no processo de educação. Mas, obviamente o problema não é a ferramenta, porque ela é boa e pode efetivamente ajudar muito. O problema é que fizeram da ferramenta o fundamento e assim o conhecimento passou para o plano secundário.

Mas, continuando a questão do destino. Como já disse, eu sou um Biólogo e Professor velho. Completei, precisamente em setembro do ano passado, 35 longos anos de exercício do magistério e em dezembro 33 anos como Biólogo formado. Nesse tempo, perdi a conta de quantas considerações me foram outorgadas, porque fui homenageado como Paraninfo ou como Patrono de turmas que ajudei a formar em vários cursos, certamente mais de 50 vezes. Será que isso é destino? Vontade de Deus? Protecionismo? Ou será pura sorte? Obviamente, sou suspeito por falar de mim mesmo, mas creio que não é nada disso. Isso só ocorre por vontade individual e coletiva das pessoas, dos meus alunos, que quase sempre querem me fazer mais uma homenagem.

Mas, por que será que os meus alunos, essas pessoas diferentes, de diferentes locais, idades, cidades, credos religiosos, condições sociais têm preferido me prestar homenagens quase que constantemente, ao invés de qualquer outro professor, haja vista que existem inúmeros profissionais competentes e merecedores de tais honrarias?

Não sei se devo, mas vou ser ousado e vou dizer o que penso. Que me desculpem, os demais professores presentes, mas, depois de certa idade, acho que a gente tem o direito de deixar a modéstia de lado e dizer efetivamente aquilo que pensa em qualquer situação e lugar. Acho que essas inúmeras homenagens que tenho recebido resultam de duas coisas associadas: competência e trabalho. Não sou perfeito, mas obviamente tenho conhecimento e sou bastante capaz naquilo que faço. No exercício das funções de Biólogo e Professor, me sinto muito bem como profissional, pois faço aquilo que me envolve, me integra e me agrada. Sou uma criança com seu brinquedo novo, apesar dos mais de 35 anos de profissão, quando estou no exercício de minhas funções. Além disso, trato todo mundo com igualdade, faço aquilo que gosto de fazer e por isso, acho que faço bem, pois faço da melhor maneira possível para mim e os meus alunos certamente sabem disso.

Em suma, ao longo de todo esse tempo, tenho procurado ser um profissional ético, sério, trabalhador, competente e, sobretudo, humano e meu aluno reconhece claramente esse fato. Talvez por isso, é que eu estou aqui agora sendo homenageado e estive nessa mesma condição tantas outras vezes na minha vida. Quem depende do meu trabalho, isto é, o meu aluno, sabe quem eu sou como profissional e como pessoa e por conta disso, entende que deve me homenagear.

Obviamente, não sou “mágico” e nem tenho “super-poderes”, não passo de um ser humano como outro qualquer, um simples Biólogo, um mero Professor, que se orgulha do que faz, mormente nesse país, onde se assumir Professor é às vezes até vexatório. Porém, me atrevo a dizer, mais uma vez, que sou um bom sujeito e um bom profissional, tanto como Biólogo, quanto como Professor. Trato bem as pessoas e, nas minhas aulas, sei do que falo, sei para quem falo e sei, principalmente, porque falo. Talvez seja isso mesmo que está faltando às pessoas, aos professores principalmente, na maioria das vezes e dos lugares: a certeza, a convicção e a importância daquilo que fazem.

É claro que não sou melhor e nem mais competente que tantos outros bons profissionais de Biologia e do Ensino que conheço. Aliás, cabe dizer, muitos dos quais eu também ajudei a formar. Entretanto, como profissional, eu tenho certeza que sou melhor que alguns e pior que outros. Mas, como pessoa, eu, por mais leviano que possa parecer me aventuro a dizer que: penso que tenho me esforçado muito para “ser mais gente do que muita gente que eu conheço” e acredito que seja esse aspecto que acabe por fazer a diferença.

Baseado nessas premissas é que quero deixar minha mensagem para vocês, dizendo o seguinte: sejam bons profissionais, como eu acho que sou, mas antes de tudo, sejam boas pessoas, como todos devemos ser. Sejam iguais, sem demagogia e sem vanglorismo. Na verdade, é isso que retorna e que dá prazer e certamente é por isso eu estou aqui mais uma vez. O tempo passa, mas eu continuo sendo sempre aquele mesmo sujeito: alegre, brincalhão, mas nunca deixo de ser, coerente, humano e, sobretudo, bom profissional. Se efetivamente sou um bom exemplo e parece que sou, já que fui escolhido por vocês, então o que tenho a dizer é que: por favor, já que vocês me fizeram de exemplo, então queiram se mirar no meu exemplo.

O mundo da Biologia é um mini-mundo e eu me orgulho muito de ser um exemplo dentro dele, mas precisamos reproduzir um macro-mundo repleto de pessoas boas e de profissionais competentes. Então, comecem por vocês, trabalhem e sejam assim também. Mas, não se esqueçam de que a única maneira de aprender é estudando. Sendo assim, sejam pessoas boas, estudem, aprendam e ensinem, pois esse é o segredo e essa deve ser a única ordem de ações para produzir o sucesso profissional e pessoal de cada um de vocês.

Parabéns a todos e espero que vocês sempre se lembrem de que o acaso realmente existe, mas certamente o sucesso não acontece por acaso, o sucesso tem que ser construído cotidianamente e cumpre a cada um de vocês construírem o próprio sucesso. Esse modelo de Biólogo e Professor que está aqui, talvez seja realmente bom, mas vocês, se quiserem, poderão e terão todas as condições para serem muito melhores.

Felicidades, sucesso e muito obrigado, por mais uma vez, me considerarem como exemplo e me mostrarem que, apesar do tempo, continuo seguindo no caminho certo.

Guaratinguetá, 03/02/2012

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Biólogo e Professor