Encaixar-se no mundo

Encaixar-se, enquadrar-se, moldar-se, ceder, tornar-se parte (do quê, de quem?), normatizar-se, alinhar-se, padronizar-se?

Em minha mente existe um mundo e uma realidade que não são tuas, não são as de ninguém. Dentro de mim existe um universo que está a contragosto da atendente de tele marketing com a qual falei, nem me lembro quando.

Sou o criador do meu próprio mundo e realidade, ou seria de minha ilusão, quem sabe?

Mas "o que é real?" Pulsos elétricos que perpassam nosso cérebro criando imagens, sons, pensamentos e sentimentos, captando costumes e modas, gerando percepções que nos permitem reagir e agir na natureza, que nos permitem construir um mapa mental singular a cada um, com o qual guiamos uma vida inteira?

Qual a realidade de um recém nascido? E a de um ser humano crescido no mato, entre os animais selvagens? A realidade de um homem-selva?

Existem de certo visões da realidade, que mudam de pessoa para pessoa. Existe obviamente uma visão particularizada, singular, maravilhosamente tecida nos fios da história de cada um de nós. Uma realidade que nos foi obtida a partir do momento de nossa concepção, e que, à medida que crescemos, e tomamos o mundo pelas mãos, e apreendemos os pormenores da natureza, as leis físicas, as interações com tudo e com todos ao nosso alcance, acabamos por criar nossa própria maneira de ver as coisas.

Ora isso acontece com todos nós. É uma dádiva que tenhamos existências tão ímpares e especiais espalhadas pelo mundo. Muitas dessas existências sofreram por não adaptar-se ao mundo de sua época. Muitos lutaram contra si mesmos, para tentar aceitar o que viam como uma aberração, uma mentira, uma falsa realidade. Muitos morreram por pensar diferente. E, tempos mais tarde, os homens de uma época outra, vendo o erro em ter calado esses sofredores, repudiaram o passado.

Um direito importantíssimo que temos é o direito à livre expressão. Mas não é só isso. Temos o direito de não nos transformarmos em objetos fabricados aos moldes de nossa sociedade. Isso é desumanizar a bela criatura que todos podemos nos tornar. Já dizia Chaplin: "o homem tem o poder de criar máquinas, mas também de criar felicidade, não para um ou alguns, mas ara todos". Temos o direito a nossas próprias idéias e sonhos e visões de mundo. De ter e viver diferentes realidades. E de conviver com nossas diferenças.

Precisamos criar um mundo de homens, não de manequins. Nós somos seres humanos! Precisamos das diferenças. São elas que nos fazem ver e viver mundos externos aos nossos. Mundos multivariados, exóticos, coloridos ou monocromáticos, mundos de vidro, mundos de lilac trees. Podemos aprender com isso. Podemos ser melhores ao compartilharmos uns com os outros o que temos de único e especial dentro da gente. Este é um ideal verdadeiro, preenchido de amor ao próximo e sonhos dourados.

É difícil de se obter tal ideal, sim. Mas as melhores coisas da vida são assim. Os melhores sonhos nunca são fáceis. Aceitar ser colocado numa fôrma e ser empacotado é uma opção. Mas existem alternativas. É por isso que os verdadeiros artistas e idealistas são importantes, eles nos mostram que nós temos fixo dois pontos. O primeiro é o nascimento, o segundo é a morte. Mas a linha reta que ligam os dois pontos não será, necessariamente a nossa vida. Nós podemos fazer curvas para cá e para lá, sempre tentando viver o melhor possível. Sempre criando e sonhando, nunca se curvando.