Discurso na Festa dos 10 anos da Biologia/FATEA

Discurso na Festa dos 10 anos do Curso de Biologia/FATEA

Luiz Eduardo Corrêa Lima

(Professor Titular de Biologia/FATEA/Lorena)

Meus amigos, não podia haver dia melhor para a Abertura da Semana de Biologia e para essa comemoração. Hoje é dia 03 de setembro, Dia do Biólogo, nossa profissão completa hoje 33 anos de regulamentação e nós, aqui na FATEA, estamos aproveitando para comemorar o nosso primeiro decênio. Isso é simplesmente maravilhoso e obviamente eu não poderia deixar de aproveitar o momento para dizer algumas coisas a vocês.

Com certeza eu não vou aqui fazer mais um discurso pela criação de nosso Curso de Biologia há 10 anos, até porque esse discurso eu já fiz no final do ano passado e ele está publicado no meu “site” para quem quiser ver, mas quero falar um pouco sobre alguns dos acontecimentos ocorridos nesses 10 anos, quero também lembrar que esta é uma marca biologicamente importante e quero, mais uma vez, agradecer a algumas pessoas, sem as quais algumas coisas não poderiam ter acontecido.

Digo que esta é uma marca biologicamente importante porque, como biólogos, nós sabemos que a grande maioria das espécies vivas não vive por todo esse tempo. Ou seja, 10 anos é muito mais que uma vida para a maioria das espécies vivas. Entretanto, para nós, como seres humanos, 10 anos, embora seja um tempo razoável, não é nenhum absurdo temporal, mas, ainda assim é um tempo bastante significativo e merece efetivamente ser comemorado, até porque é primeira data redonda (cheia) e realmente precisa ser marcada em nossa história.

Durante o período de 10 anos, algumas moscas da Família Drosophilidae (Mosca da Fruta) que vivem na condição de adultas apenas por cerca de 10 horas e que surgiram na Terra há aproximadamente 50.000.000 (cinquenta milhões) de anos atrás, poderiam estar na sua trilionésima geração. Nós humanos modernos, para alguns cientistas, já vivemos cerca de 100 mil anos e não estamos talvez nem na nossa milésima geração. Isto é, o nosso tempo de vida no planeta, até aqui, é proporcionalmente 1.000.000 (um bilhão) de vezes menor do que o de algumas espécies de moscas Drosophilidae.

O que estou querendo dizer com essa analogia é que, se fôssemos moscas da fruta, nós já teríamos vivido uma infinidade de gerações, quase a eternidade teria sido vivida nesses 10 anos. Mas feliz ou infelizmente somos humanos e vivemos e sentimos o tempo de uma forma muito próxima, muito acirrada e muito inclusiva. Nossa relação com o tempo é muito estreita e esse fato traz consequências paradoxais, as quais são tão maravilhosamente boas quanto são perversamente ruins. Se o tempo é bom, nós curtimos e festejamos. Mas, se o tempo é ruim nós lamentamos e entristecemos.

Assim, nesses 10 anos muitas coisas aconteceram no Brasil, algumas boas e outras ruins. Sou suspeito, mas como Biólogo e Ambientalista, penso que a grande maioria dos acontecimentos, no cenário nacional, não foi muito boa. A Biologia cresceu no mundo e hoje é certamente a rainha das ciências, mas aqui no nosso país, ainda se fala muito e se faz muito pouco, principalmente quando o assunto é relacionado à vida e à natureza. Assim, no Brasil, a Biologia, pelo menos até aqui, não parece ser coisa importante. Infelizmente vivemos uma realidade contrária aos interesses da humanidade, por razões que não quero discutir agora. Mas, é assim mesmo e esse é o nosso tempo, temos que viver e aprender com ele e dentro do possível, temos que tentado modifica-lo progressivamente para melhor. Por outro lado, aqui na FATEA a Biologia, apesar de alguns altos e baixos naturais do percurso, tem crescido bastante nesse curto espaço de tempo e também tem revelado que independentemente da realidade brasileira, nem tudo está perdido e que é bem possível mudar o quadro nacional se houver interesse real.

Meus amigos, o tempo, para nós humanos, é uma grande complicação mental, funcional e principalmente sentimental. Entretanto, acreditamos muito num aforismo, que é quase uma regra geral e que diz assim: “se passou rápido é porque foi bom”. Pois então meus amigos, esses 10 anos passaram na velocidade da luz, quase como um raio, e parece mesmo que foi ontem, que eu recebi a carta do MEC dizendo que o nosso curso estava aprovado e que podia começar a funcionar. Aquele momento foi mágico e realmente muito bom. Porém, já se passaram 10 anos, isto é, 315.360.000 segundos. Ou seja, foram mais de 87.000 (oitenta e sete mil) horas de aulas e ensinamentos. Por aqui transitaram quase 1.000 alunos, trabalharam cerca de 40 professores e foram produzidos mais de 400 trabalhos científicos e de divulgação científica, sendo que pelo menos uns 200 desses trabalhos, foram desenvolvidos pelos próprios alunos, como trabalhos de iniciação científica ou de conclusão de curso.

Por aqui passaram várias histórias, desde as falcatruas tentadas por alguns alunos para burlar a obrigatoriedade do TCC, até a reclamação pública de aluno que, mesmo tendo sido aprovado pela Banca, tentou fazer ingerência política e administrativa sobre uma Banca de TCC, alegando que não queria a nota que lhe foi atribuída, por que seu trabalho era perfeito e tinha que obter nota maior. Tivemos até aluno impondo processo civil contra um Professor, sob a alegação de uma pretensa condição preconceituosa do Professor, quanto às opções e interesses sexuais de certo aluno.

Vimos desde aquele aluno que encontrou um animal em Minas Gerais, mas disse que ele também ocorria aqui no Brasil, como se Minas não fosse Brasil. Vimos ainda o aluno que processou o Professor por ele não ter lhe atribuído nota na prova que e o próprio aluno não havia realizado e vimos até mesmo o aluno que foi procurar a continuação do desenho que estaria na parede oposta da lousa, isto é, na outra sala. Acompanhamos casos de alunos agindo para tirar Professor do Curso, o que é bastante comum nas escolas, mas também vimos alunos lutando para manter Professor no Curso, o que é algo muito raro nesse país.

Vimos desde alunos e professores que identificaram uma nova maneira de ensinar ciências biológicas ou mesmo de tratar melhor uma metodologia consagrada, até alunos e professores sendo homenageados e ganhando prêmios em várias situações. Vimos de tudo, como eu já disse, vimos coisas maravilhosas e coisas terríveis. Realmente fica muito difícil comprovar o que se viu mais, porém entendemos que o saldo é positivo. O mais importante é que vivenciamos todos esses fatos e estamos fazendo história.

Mas, o futuro é o que nos importa e aí eu pergunto: como serão os próximos 10, 20 ou 50 anos? O que nos espera no futuro?

Obviamente continuaremos tendo coisas boas e coisas ruins outras vezes, entretanto o saldo que temos é positivo e isso certamente conta, porque mesmo que pudéssemos perder mais do que ganhar, nosso saldo positivo atual ainda faria uma diferença significativa. Porém, sou ciente de que esse saldo não será necessário, pois tenho a convicção absoluta de que nosso futuro será como foi até aqui, repleto principalmente de coisas boas.

A nossa Biologia é a ciência do presente e continuará sendo a ciência do futuro e nós, biólogos, seremos os precursores do novo tempo. Do tempo feliz, em que os humanos serão capazes de demonstrar o seu interesse e a sua preocupação com a vida e o planeta, mesmo aqui no Brasil. No futuro, ser biólogo será como um “artista global” de hoje, mas com uma grande diferença funcional, porque nós estaremos de fato trabalhando pela verdade, pelo planeta e pela vida e não apenas encenando.

Aqui em Lorena, o Curso de Biologia da FATEA, certamente viverá esse tempo, fazendo sua parte na história que ainda há de vir. O Desenvolvimento Sustentável tão falado por todos e sonhado por nós Biólogos será prática cotidiana efetiva dos futuros alunos do Curso de Biologia da FATEA e quiçá de todos os seres humanos pelo mundo afora.

Meus amigos, temos defeitos e obviamente continuaremos a tê-los, porém sempre procuramos e, graças a Deus, até aqui conseguimos, errar menos e acertar mais, assim temos superado os nossos erros. A vida é dura e o tempo é contundente, compulsório e chega para tudo e para todos. Não há escapatória. Mas nós, do Curso de Biologia da FATEA, não temos medo do tempo, porque estamos crescendo e ainda vamos crescer muito mais. Somos meninos de 10 anos e queremos morrer bem velhos e repletos da sabedoria que é marcante naqueles que viveram bastante.

Nosso futuro está apenas na alvorada e pelo que aconteceu em nosso curto passado e pelo que estamos vivenciando em nosso presente, temos certeza que a Biologia da FATEA tem caminho longo e bastante fecundo a percorrer. Estamos apenas começando o nosso caminho, mas temos certeza que ele será longo e nos trará muitos frutos.

Parabéns a todos e eu quero aqui aproveitar para agradecer a Deus por ter me permitido fazer parte dessa história e deixo aqui também o meu muito obrigado a todos vocês que, de uma forma ou de outra, trabalharam conosco ao longo desse processo. Quero agradecer particularmente, ao meu amigo, meu irmão, meu filho Paulo Sena, que sonhou comigo esse sonho e que, como eu, nunca deixou de acreditar que ele seria possível.

Quero também agradecer a todos os companheiros que, aqui presentes ou não, de uma forma ou de outra, também vivenciaram essa história, mas vou principalmente ressaltar os Biólogos, que muito contribuíram com o nosso sucesso: muito obrigado Ana Maria, Christmas, Cláudia, Damian, Eduardo, Ivanea, Laura, Luiz Fernando, Rafael, Raquel, Ricardo, Sônia.

Muito obrigado também a vocês alunos do passado, do presente e do futuro que foram, são e serão as provas vivas de que nós estávamos certos. O Curso de Biologia da FATEA que foi um sonho nosso, tem sido realidade para muitos, inclusive vocês aqui presentes, mas, como eu já disse, certamente será a glória para aqueles que ainda virão.

Parabéns a FATEA e parabéns todos nós pelos 10 anos do Curso de Licenciatura em Biologia e parabéns também a todos os Biólogos Brasileiros pelos 33 anos de Regulamentação da nossa Profissão.

Muito Obrigado.

Lorena, 03 de setembro de 2012.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (56) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Ambientalista e Escritor; Vice-Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL);foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.