APRESENTAÇÃO DE SIMONE PEDERSEN

Apresentar Simone Pedersen seria tarefa das mais fáceis se eu a conhecesse de perto. O problema é que isso não acontece. Esta é a segunda vez que vejo Simone pessoalmente. Conhecemo-nos virtualmente e mantivemos contato indireto por um bom tempo, através do Yahoo, no grupo da Associação de Literatura Infantil e Juvenil – LIJ como se diz entre nós –, lendo seus comentários em e-mails e também acompanhando seu trabalho nas páginas virtuais da Associação. Interessava-me o contato com uma pessoa que residia próximo a mim. Depois, encontrei-a no Facebook e nos adicionamos. É o modo moderno de fazer amizades.

Comecei a “conviver” com ela e descobri que é uma alma generosa, aberta à vida e entregue ao mundo das palavras com todo o seu ser. Suas postagens eram ao mesmo tempo líricas e sinceras. Assim, fui conhecendo e me deixando cativar pelo “Mundo de Simone”. Uma Simone que disse certo dia, à época do vestibular: – “Se meu filho entrar na faculdade, atravesso a Avenida Paulista de joelhos". Ora, não era nada usual, essa promessa; era uma promessa muito criativa! E foi então que um dia eu li um poema dela sobre saudade:

“Eu pensava que saudades fosse medo da distância eternizar-se. Eu pensava que saudades fosse um bichinho que comia pedacinhos de coração. Já pensei até que saudades fosse fome de passado. Depois, descobri que saudades não tem definição. Já senti saudades de pessoas que se foram e de outras que nunca conheci. Já senti saudades da pessoa ao meu lado, por saber que ela ali não mais estaria um dia. Senti saudades da vida, quando me lembrei que tudo morre: pessoas, amores, histórias e fotografias. Já senti saudade de mim, quando deixei de existir em capítulos da minha história. Hoje, sinto saudades de um futuro que nunca existiu. Saber que o tempo, pouco a pouco, enfraquece tatuagem até que fique somente uma sombra indecifrável, dói. Como fumaça que cada um enxerga nela o que o coração desenha: mares, montanhas, anjos ou nada, simplesmente um nada. Hoje sei que não existem distâncias, não existem tempos, não existem destinos. Nós não existimos. Nada é real. Nada faz sentido. É assim que me choro quando sinto saudades. Como se tudo houvesse sido em vão. Sonhos, músicas, abraços e despedidas. Uma queda livre durante a qual toda a vida perde o sentido. Saudades é cair em um precipício, lentamente, e sozinho.” (12/12/12).” A data era uma coincidência ou era o símbolo da queda que começa e não termina: doze... doze... doze... cada qual a confundir-se com o outro e a anular o outro.

Pouco tempo depois, em fevereiro de 2013, vi outro texto, mais longo, “A hora de dizer adeus”, do qual apresento alguns excertos: “Há momentos na vida, em que é hora de ir embora. Quando visitamos alguém que começa a bocejar; quando, no hospital, a enfermeira entra para dar banho no paciente; quando o vizinho começa a gritar palavrões... Momentos em que, se não sairmos, seremos inoportunos e criaremos um desgaste desnecessário. Há momentos na vida em que é hora de ir embora, porque não estamos mais presentes espiritualmente, mesmo que sentados no mesmo sofá. (...) Na vida, há momentos de despedir-se de um caminho e reiniciar outro, sem olhar para trás. Às vezes, temos que dizer adeus ao dia cinzento para reencontrarmos esperanças no amanhã. Temos que dizer adeus à noite de pesadelos para reencontrarmos os sonhos. (...) Há momentos na vida em que temos que preencher nossos vazios com novos caminhos. (...) Há momentos na vida em que temos que dizer adeus, como o sol se despede do dia, enfraquecendo as cores até sobrar apenas a escuridão. (...) Há momentos na vida em que é hora de dizer amém”.

Se nunca fui à casa de Simone Pedersen – se não fui ainda –, não foi porque ela não convidou; a porta sempre esteve aberta. Pude visitá-la quantas vezes quis e acompanhar seu dinamismo – o tema é bem atual e até poderia chamá-la de “Simone charmosa” – apreciar seu carisma, sua enorme criatividade, enriquecendo as bibliotecas das escolas com suas publicações, instigando a fantasia de crianças e adultos, dedicando-se e oferecendo talento e carinho a todos que dela se aproximam. Nascida em São Caetano do Sul – SP –, advogada, iniciou, oficialmente claro, a vida literária em 2010 e rapidamente firmou uma vasta lista de livros já publicados e outros em programação, além de acumular prêmios e fazer parte de diversas Academias de Letras. Um diferencial de seu trabalho pode ser inferido do fato de seu livro “Poemas Minimalistas” ter sido selecionado para PNBE (com distribuição de 70.000 exemplares em todas as escolas do Brasil), da homenagem recebida com o seu nome dado à Biblioteca da E.M. Prof. Antonia do Canto E. Silva Cordeiro, em Vinhedo) – portanto, Biblioteca Simone Alves Pedersen – e de sua seleção para o Catálogo de Bolonha, através da LIJ, onde esteve presente para a Bologna Children’s Book Fair, da qual acaba de retornar. É uma grata satisfação que sua indicação tenha sido aceita inicialmente pelo nosso Presidente Sérgio Caponi, aprovada por unanimidade pela Câmara Setorial e eleita, também por unanimidade, em Assembleia Geral desta Academia. Grande honra também é estar aqui no papel de sua madrinha, apresentando-a a seus novos pares. A efetivação de Simone Alves Pedersen, a partir desta data, em que toma posse e passa a ocupar a cadeira de número três, de Cecília Meireles, certamente honra e engrandece o corpo de acadêmicos da Academia Campineira de Letras e Artes.

Nilza A. Hoehne Rigo

Campinas, 20 de abril de 2013.