Discurso para a Turma de Pedagogia da FVC: confissão de um traidor

Este é meu primeiro discurso como professor paraninfo... Sendo o primeiro, não ficou no naipe de muitos que já li e de outros que ouvi.. mas tá valendo...

Sr. Diretor José Fernandes; Coordenador do curso de pedagogia prof. José Luiz, colegas da mesa, coordenadores dos demais cursos, professores,caros formandos, familiares e funcionários da FVC, e demais autoridades presentes, boa noite.

Em primeiro lugar gostaria de registrar e agradecer a honra de ter sido escolhido, devido a bondade e a generosidade das e dos que eram e agora não mais alunas e alunos, para ser homenageado hoje.

Enfrentamos muitas questões na vida, e uma ou muitas delas é conceitual... e por vezes precisamos romper, (trans)formar, construir e desconstruir conceitos. Um deles enfrento agora: chamá-los (as) de alunos, não posso, já deixaram de ser alunos e alunas; colegas de profissão? Acho que temos mais intimidade que isso. Heróis e heroínas... Eu queria usar outra palavra para evitar o trocadilho malfadado com uma droga, mas heróia não é uma boa escolha.

Sim, heróis, heroínas... Preciso antes de qualquer coisa fazer uma confissão. Sou um traidor. Sim um traidor confesso, mas não arrependido.

Traidor porque quando fui contratado pela faculdade, fui contratado para ensinar e construir alguns conceitos e desfazer outros: LIBRAS, inclusão de alunos surdos... São ou não sexualmente “aflorados” (conforme foi questionado) dentre tantas outras questões que levantamos e politicamente (des)construímos. E, na verdade eu mais aprendi que ensinei... (des)construi certos valores. A título de exemplo:

Pasmem! Eu não me chamo Ademilson. Eu sou “o tal do Ademilson”.

Aprendi que barulhos são necessários. E barulho não é sinal de vazio, mas antônimo de silêncio. E usando as palavras do mestre Paulo Freire: "Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão" (FREIRE , 1987, p. 78).

Aprendi que quando as mulheres dizem que estão com dor de cabeça... maridos, namorados, (isso vale para as namoradas e esposas) creiam... é verdade.. é PPP... PASTA DE ESTÁGIO... PNL... LIBRAS... TCC... Eu uma lista quase interminável de atividades para dar conta... e deram.

No período de preparar e apresentar o TCC acontece de tudo, mas tudo se ajeita no final.

Mas já são águas passadas. Agora é olhar para o futuro.

Pois, creio nas palavras do profeta Paulo Freire: “É certo que mulheres e homens podem mudar o mundo para melhor, para fazê-lo menos injusto, mas a partir da realidade concreta a que ‘chegam’ em sua geração. E não fundadas ou fundados em devaneios, falsos sonhos sem raízes, puras ilusões. O que não é porém possível é sequer pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia e sem projeto (FREIRE, 2000, p.55).

E o que é a utopia? Mario Sergio Cortella responde: é como o horizonte. Cada vez que me aproximo do horizonte ele se distancia de mim, se aproximo dez passos ele se distancia dez passos. E para que serve então? Para que eu esteja em constante movimento.

Que venham os novos passos para se revelar novos horizontes... Que venha o mestrado o doutorado... E onde quer que estejam, contem com a FVC, com os professores e amigos que vocês conquistaram aqui, e claro, contem comigo.

Agora vocês são e estão licenciados (a) para, desde antes, transformar o mundo para melhor.

Deus os abençoe!