Declaração

Um suspiro pra tentar iniciar; não é um conto, nem uma crônica, nem um artigo, muito menos uma poesia, nem uma cena de romance, o que dificulta muito... Uma declaração, talvez. Um agradecimento, provavelmente. O pagamento de uma dívida imaginária. É mais do que dinheiro; não se compra, não se vende. Arranca-se; d’alma.

Arranca-se, porque se fosse espontâneo, jamais existiria. Arranca-se, porque não é uma opção. Ao contrário do que pode aparentar, eu não escolhi escrever isso. E talvez por isso dê certo. Se fosse minha escolha, não escreveria. Não porque eu não queira, ou não saiba da importância de algumas palavras pra você. Eu quero e sei.

Mas, se fosse por mim, não existiria isso, porque eu sou do tipo que economiza palavras, do tipo calado com a caneta em mãos; processa muito e só escreve aquilo que tem absoluta certeza de que consegue; sonho [do mesmo jeito que alterno entre primeira e terceira pessoa], mas mantenho os pés no chão. É contraditório, como tantas classificações que precisamos dar.

Sou discreto. Você, nem um pouco. Sou simplista. Você, nem um pouco. Sou quieto. Você, nem um pouco. E, ironicamente, de pouco em pouco, vamos nos completando. Desde os 13 anos, fomos nos moldando, mas mantendo a personalidade individual. Se já extrapolamos linhas e cometemos erros? Como todas as pessoas normais.

Se estou, agora, ao escrever isso, extrapolando minhas próprias linhas – pessoais, autorais, profissionais? Naturalmente. Já disse, sou discreto. Já disse, escrevo sobre o que tenho certeza. Ainda assim, me joguei aqui, pra tentar arrancar um sorriso, mesmo que singelo. Um sorriso que, infelizmente, não conseguirei ver. Afinal, hoje estamos longe. Não muito. Mas o necessário pra evitar visitas semanais. E isso corta, poda, enciúma, sobrecarrega, irrita, enerva, machuca. Porém... por incrível que pareça, eu não abriria mão de nada. De nenhuma ligação breve, de nenhum choro por saudade, de nenhuma correria, de nenhum adeus na rodoviária, de nenhum beijo entregue pela webcam, de nenhum abraço imaginário, de nenhum momento em que eu quis te ter nos braços, deitada em baixo de uma coberta, enquanto eu assistia alguma coisa e você começava a dormir.

Porque não importa o que já foi dito – por nós e sobre nós –, não importa se seremos eternos, ou não, não importa se a nossa história será daquelas de colocar nos livros, de enquadrar na prateleira, de delinear na areia. Só importa, da maneira mais piegas possível, ter você pra compartilhar experiências e sentimentos. Já disse você, entre risos, no nosso primeiro aniversário: “o que é um ano pra quem viverá uma eternidade juntos?”

Boba, ingênua, romântica, sonhadora. E eu, tão realista, tão cheio de mim, tão eu, não tenho pra onde correr. Por mais que queira negar, por mais que eu tente fugir, nossa história é exatamente isso: boba, ingênua, romântica, sonhadora, piegas, idealizada. Mas também realista, cheia de Nós, sem escapatória.

E talvez seja toda essa contradição, toda essa improbabilidade, todo esse balanço entre romantismo e realismo, que tenha feito nós funcionarmos tão bem. Longe, mas perto. Infantil, mas maduro. Duradouro, mas novo. Novo, mas duradouro. Amor, mas amizade. Amizade, mas amor. Amor mais amizade e amizade mais amor. Uma soma e subtração, ao mesmo tempo. E nesse tempo e em tempo nenhum, eu te amo, como nem provavelmente você ou eu, consigamos compreender.

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Bem, depois de tudo isso, só você deve ter lido até aqui, então, lembre que eu detesto escandalosas declarações públicas de afeto [principalmente nas internet ], mas, por vezes, a gente precisa abrir mão de um pedaço de nós. E ontem, quando você perguntou, meio como quem não quer nada, se teria algo no seu perfil e eu disse que não, bem, eu menti [não que eu faça isso com muita frequência –só quando estou jogando FIFA]... Eu já sabia que teria, porque eu sei que isso te deixaria absurdamente contente – mais do que eu consiga entender.

Não sei muito bem por quais motivos chegamos até aqui. Nunca foi planejado, nunca foi discutido, nunca foi forçado. Só sei que cá estamos e estamos muito bem. Como estaremos amanhã, aí já não sei – até porque é sábado e eu sou muito preguiçoso no sábado –. Mas, torço pra que vivamos cada vez melhor – e mais perto, por favor.

.por mais que eu te ame, não se acostume com isso. Daqui uns 5 anos, quem sabe.

Gustavo Magnani
Enviado por Leones Silva em 03/03/2014
Código do texto: T4713992
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