Antítese 2

Eu posso ser o pastor e a ovelha, ser o brinco e ser a orelha, ser o chão e ser a telha. Eu posso ser condomínio e ser favela, ser teatro e ser novela, ser a luz e ser a vela. No cinema, eu sou a tela. Eu sou a honra, sou a glória, sou a derrota e sou a vitória. Eu posso ser adulto e ser criança, o que se esquece e ser lembrança. Não tenho fé, tenho esperança. Eu sou a rosa e sou o espinho, o desafeto e o carinho. Acompanhado posso estar, mas logo posso estar sozinho. Eu sou o calor do verão e o frio do inverno, sou o antigo e o moderno. Eu posso ser a areia da ampulheta e o facebook da internet, ser o pen drive e videocassete. Eu sou ferro novo e sou sucata, cão de raça e vira- lata, sou o ouro e sou a prata. Eu sou quem foi, ou está vindo, o horroroso e o mais lindo, ser sábado ou ser domingo. Eu posso ser a metade ou o que é inteiro, o falso e o verdadeiro, ser dezembro ou ser janeiro. Eu posso ser um rio ou um oceano, ser um dia ou ser um ano, o que eu odeio ou o que eu amo, ser a certeza ou ser engano. Eu sou o marido e o amante, o próximo e o distante. Isto sem desistir, ir adiante. Eu posso ser o crime e ser a lei, ser o súdito ou ser o rei. Nesta vida louca, sendo uma antítese, eu sei. Posso ser isto ou ser aquilo, mas perfeito, nunca serei.

Zéca Filho
Enviado por Zéca Filho em 22/06/2014
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