Manifesto pela Liberdade de Pensamento (em onze dias) 10

Edgar Morim, em O Método, aponta o que Hegel e Marx deixaram de lado na dialética em Heráclito. Se o LOGOS heraclitiano é entendido como Inteligência, Ideia, Pensamento, e há um Devir, então há uma dialética entre a Ideia e a Matéria, que não está no terreno da Lógica formal, mas que dela se serve para ser expressa e comunicada verbalmente entre os homens. Morin EMM1 79 preferiu usar o termo dialógica para se referir à dialética apontada por Heráclito, que se refere ao nível do Princípio de Ordem-Desordem, reservando o termo “dialética” para se referir ao nível dos fenômenos, ou seja, ao nível da Realidade como o homem a experimenta com seus órgãos do sentido e sua mente, portanto, à interpretação que o homem dá à Realidade, esta existindo independentemente do homem e seus instrumentos de leitura. Isto não está explícito nos textos que abordam o materialismo histórico dialético, trata-se de uma disputa entre Ideologias. O uso de meios escusos, como a mentira, o embuste, o encantamento pelas palavras pelos Socialismos de cunho marxista, deixa claro não ser um processo natural com pensado por Hegel e Marx.

Hegel se deixou levar pela delusão da unidade como homogeneidade e especulou sobre a história das Ideias e suas disputas entre os homens, pregando uma grande síntese final, unidade do homem com o Absoluto, dos homens com o Estado. Marx buscou a dialética de Hegel, que é disputa de conjuntos de pontos de vista sobre o Real (discursos) e propôs o a Dialética da história, em busca de uma unidade homogênea da humanidade em termos do Pensamento, todos pensando de uma mesma forma, em busca de um mesmo objetivo. A visão sistêmica de Morin corresponde ao que se verifica na Realidade, não há possibilidade desta unidade homogênea pela síntese, mas um unidade de contrários que se interagem, que são irredutíveis um ao outro, mas ao mesmo tempo inseparáveis um do outro, harmonia. Como disse Heraclitus.

No entanto, os propagadores do marxismo, semi-alfabetizados na Realidade e seu sistema de coisas reais esqueceram que Hegel pregou a unidade do homem com Deus nos moldes previstos na Religião, como o Cristianismo e outras, e em textos para-religiosos, como a Cabala: Hegel não considerou os mecanismos íntimos do pensamento na mente humana e excluiu as contribuições do homem individual aos significados das palavras.

As sociedades autoritárias homogeneizadoras pensam-se unitárias, mas só conseguem uma aparência de unidade ao aniquilar as mentes dissonantes, o que, por a Realidade ser um jogo eterno de ordem/desordem, é uma aniquilação eterna, a eliminação de todos os que pensam de forma contrária ao discurso oficial, que é um holocausto a conta-gotas. Daí não ser a solução para a equação entre o Homem, a Sociedade, a Natureza e os Objetos. Artaud buscou a cultura unitária/ordem, em que há desordem, pelo direito radical do homem à sua individualidade, e há condenação dos mecanismos de manipulação de sua mente, e de repressão de sua criatividade, que é instrumento de sobrevivência não apenas do homem individual, mas da humanidade.

Para concluir, tanto a visão de mundo de Hegel quanto a de Marx se referem a fenômenos, ou seja, às “aparências” GLDF com que a Realidade se entrega ao homem, a seus sistemas de coleta e sistematização de dados, seus órgãos de sentido e sua mente, sendo “aparências e fenômenos” tudo quanto conceitualmente procure descrever o Sistema de Coisas Reais e suas inter-relações, GLDF a partir de observações ou reflexões de um ou mais de um homem. A visão de mundo de Hegel e a de Marx, ou a visão de mundo de seus seguidores, são interpretações da Realidade, ou seja, produto de suas mentes, que embora possam ter sua utilidade, não passam de visões de cegos que examinaram partes do corpo de um elefante, a Realidade, e assim visões parciais e egocentradas nos pontos de vista de seus autores.

(Continua)

Gilberto Profeta
Enviado por Gilberto Profeta em 22/06/2014
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