O MENTIROSO E O LADRÃO

O mentiroso é o pai dos ladrões. Ele rouba o que não é possível devolver, um toque da alma no percurso da vida. Subtrai ao iludido a oportunidade da escolha precisa no contexto real e verdadeiro.

Lembro-me do debate do Lula X Serra, em 2002. Fazendo o contraponto a Serra, Lula declarou que não realizaria a transposição do São Francisco. E isso definiu minha convicção de votar no candidato Lula - em quem eu votara e por cuja candidatura militara desde a primeira convenção do PSB, em que Bisol saiu como vice de Lula.

Eu sonhava, assim como o Bispo Dom Luiz Cappio, em uma guinada nas práticas políticas que, finalmente, deslocaria a invisibilidade das verbas públicas, quando geridas dentro do desgastado esquema empreiteiras e governo, para a visibilidade dessas mesmas verbas, agora em vias de, em forma inédita, serem geridas em favor das comunidades ribeirinhas, para fazer as coisas na ordem correta: primeiro a revitalização do moribundo velho Chico, para então, com o aumento de vazão decorrente do reflorestamento - que desde o Império era uma recomendação para atenuação das secas no Nordeste - de suas margens, pensar na tal transposição. Mesmo porque estava em curso, no sertão do Ceará e Pernambuco, a implantação de sistemas agroflorestais que beneficiavam os lavradores, que se viam livres da pressão para abandonar suas terras, encontrando nas novas práticas agropastoris o suprimento necessário para manter suas famílias unidas na terra de seus ancestrais.

Esse sonho veio a ser abortado pelo anúncio do Presidente eleito, Lula, de que a transposição seria realizada, ele caia no velho esquema viciado e desenhado para favorecer a corrupção. Dom Luiz Cappio fez a greve de fome, sem, no entanto, sensibilizar o governo eleito. E agora vemos o desastre dessa tal transposição, mas enfim…

Senti-me traída, roubada, vítima de estelionato eleitoral. Um roubo sem reparação, sem que eu pudesse recuperar o tempo de minha vida que investira trabalhando pelo candidato Lula. Sentia-me como uma palhaça, como se sentem todos os que foram vítimas de uma trapaça.

Ora, o mentiroso assina uma autorização para que, na ausência da verdade, se possa pensar qualquer coisa e esperar qualquer trapaça dele. Não admira que, mesmo de forma inconfessável e incômoda, muitos suspeitem de armação no caso do acidente que vitimou o candidato esperança Eduardo Campos. Portanto, é inteiramente razoável, ainda que isso não se confirme, que muitos fiquem coçando essa pulga atrás da orelha a respeito desse intempestivo acidente. Lamentável…

E junto com o mentiroso vem o ladrão. Ladrão de irrecuperáveis anos de vida… E de vida, portanto.