AS PRÁTICAS RITUALÍSTICAS E O PERDÃO

Diversas formas de rituais são usadas por pessoas que ainda não despertaram suas consciências para as realidades espirituais: Despachos em encruzilhadas, trabalhos de vodu, ritual em que se usa uma réplica de alguém para jogar sobre elas, fluidicamente, diversos males, peças de roupas usadas como meio para se atingir a pessoa que a usava são utilizadas por mentes não acrisoladas. Aqueles que sofreram uma crítica ou não gostam do jeito de ser do outro, sentindo inveja e raiva, procuram esses meios covardes para prejudicarem seus desafetos. Quem age desta forma não quer ser contrariado em seus pontos de vista e não aprendeu a perdoar.

No decorrer de nossa breve passagem pela Terra, somos levados ao convívio com diferentes tipos de pessoas. Algumas pensam da mesma maneira que nós e têm o mesmo ponto de vista; outras, entretanto, têm concepções diversas e outro estilo de vida. Essas divergências geram atritos para aqueles que não aceitam opiniões e comportamentos que diferem dos seus e, assim, uma visão muito estreita da vida gera a discórdia. Imergidos em artifícios que servem apenas para atrasar nossa chegada à reta final de nossa caminhada evolutiva, perdemos precioso tempo com preocupações fúteis.

Todos nossos atos retornarão para nós na mesma proporção e intensidade com as quais os praticamos. Carregar um puro sentimento em nossas atitudes é escudo que criamos em torno de nós, que nos protegerão de qualquer influência de vibrações inferiores; são altaneiros dispositivos funcionando como uma redoma em nossa volta.

Através da fala e da fofoca, ao falarmos algo de alguém ou de suas opções e escolhas, poderemos ferir sua sensibilidade. Daí, vem a necessidade de se ter o cuidado com o que se vai falar. Uma frase pronunciada impensadamente pode causar inimizades duradouras.

Não podemos levar tão a sério as palavras que nos são endereçadas. Primeiro, porque quem fala de nós ou nos critica maldosamente e nos julga, demonstra sinal de pouca maturidade e falta de respeito por crenças e crendices e, só por isso, já são pessoas desestruturadas, e além do mais, nós também erramos, assim como eles. Segundo, no comentário que alguém fez e nos ofendeu, pode não ter havido a intenção de nos magoar.

"As pessoas podem te ferir com espadas, pedradas e pauladas, mas

com palavras, somente se você permitir. Ninguém poderá te fazer sentir inferior sem o seu consentimento"...

Essa parte “somente se você permitir,” não está nos recomendando a revidar, agredir e a dizermos não ao outro, mas sim nos acalmar e dizermos não a nós mesmos. Dizer não, “eu não vou me deixar me ofender por essa situação.” É uma decisão nossa. Mas, e se houver tido a intenção de ofender e de fazer mal? Ninguém ofende e faz mal a não ser a si próprio...

Jesus, na sua grande sabedoria, ao ser questionado sobre se seriam sete vezes que deveríamos perdoar aquele que nos ofendesse, recomendou-nos que não deviam ser apenas sete vezes, mas setenta vezes sete.

O número sete simboliza a perfeição. Jesus, então, nos disse que é preciso perdoar até que nos tornemos perfeitos ou que o perdão é o caminho para a perfeição. Sem ele não se pode chegar a Deus, e é exatamente por isso que ele faz parte da oração do Pai Nosso. O perdão é sempre colocado como condição de libertação por Jesus, porque nos dá condições de prosseguir, uma vez que o ato de não perdoar nos deixa atrelados a situações e pessoas, porque o ódio prende, enquanto o perdão liberta.

É preciso considerarmos também que, muitas vezes, nos melindramos à toa e nos sentimos ofendidos por qualquer coisa. Achamos que fulano nos olhou de uma forma abusiva, que sicrano está me perseguindo, que aquelas pessoas estão cochichando sobre nós; quando alguma coisa dá errada, imaginamos que é alguma macumba que alguém fez para nós, e assim vai. Nunca acreditamos que se algo nos acontece é culpa nossa; que fizemos por merecer e que ali está a oportunidade de correção.

É muito fácil por a culpa no vizinho, no diabo, no macumbeiro do que assumirmos nossas responsabilidades e acreditar que, se sofremos algo é porque precisamos, pois falhamos em algum momento. Sempre nos colocamos como vítimas.

Diante do enunciado, não há necessidade de ficarmos procurando tantas coisas como velas pretas, rosas, cachaça, galinha preta e qualquer prática ritualística. Quando alguém nos magoar, vamos silenciar, orar por nós e por ele, seguir o nosso caminho, nos afastar dessa pessoa, ou então dizer a ela que nos sentimos magoados por determinada atitude, expondo nossos sentimentos. Quando procuramos esses rituais, gastamos dinheiro erroneamente, matamos as coitadas das galinhas, perdemos tempo e atrasamos nossas vidas, além de encaminharmos irmãos à situações que não irão clarear seus caminhos. E por que é que a pobre coitada da galinha tem que ser preta, ainda por cima? É um exemplo claro de uma infeliz discriminação em que se considera o preto uma cor inferior. É de se lamentar.

Alguns mistificadores se aproveitam da fragilidade e falta de conhecimento daqueles que os procuram e inserem em suas mentes um monte de ideias descabidas, dizendo que na porta de sua casa enterraram uma peça de roupa, ou que numa encruzilhada fizeram um trabalho para nós, deixando-os confusos e amedrontados, e aproveitam a oportunidade para extorquir dinheiro ou algum bem. Outros, já pedem dinheiro para retirar aquele trabalho que alguém fez de mal. E, assim, a pessoa vai se envolvendo e se submetendo a chantagens. Embasados em pressentimentos e intuições, que muitas vezes vêm de espíritos brincalhões ou pouco esclarecidos, muitos de nossos irmãos, encarnados e desencarnados, se enveredam por estradas e caem à sua margem, servindo de joguete a conselhos e atitudes irrefletidas.

Não podemos nos esquecer de que o melhor antídoto para a solução desses dilemas são os pensamentos e atitudes voltados para o bem. A reflexão deve fazer parte de nosso dia a dia, tendo sempre como referência a vida e obra do Mestre Jesus, que se resume no perdão das ofensas e em amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ele exemplificou e deu sua vida por nós, não no sentido de nos livrar de nossos erros ou levar embora nossos pecados, mas no sentido de pensarmos neles, aprendermos com eles e corrigi-los, entendendo que para ser grande temos que admitir o quanto temos ainda que crescer, comparados à grandiosidade de Deus, e precisamos carregar nossa cruz: Assumir nossos compromissos e responsabilidades, sem querer jogar nos ombros dos outros o fardo que nos compete carregar até o fim.

E quando falamos de perdão, percebemos que a vinda de Jesus teve como objetivos apregoar o perdão e transpor a barreira da morte. O Cristo de Deus quis nos mostrar, através de sua estadia neste planeta, que o perdão é a chave que abre a porta de entrada para o Céu e que a morte é simplesmente um estado de despertar e renovação de espírito e matéria; é a confirmação da imortalidade. E, assim, como Ele, somos seres imortais e destinados à perfeição. Não há, com a morte do corpo físico, o fim da vida, mas o fim ou a interrupção de uma etapa. Retornaremos aqui ou em outros mundos quantas vezes forem necessárias para alcançarmos nossa evolução; nossas asas do conhecimento e da sabedoria, as da razão e as do sentimento.

Fundamentados nesses conceitos, constatamos que aqueles que imaginamos estar mortos e aqueles que não fazem parte de nossa afeição, estão precisando não é de despacho e trabalhos em encruzilhadas, trabalhos de sacrifícios e magia negra, mas estão necessitados de preces, orientações e de sentirem-se amados.

Nossos irmãos que pedem rituais para deixarem outros em paz é porque não sabem, ainda, pedir luz e um gesto de carinho de nossa parte. Por isso, não os incomode, não os odeie e não os engane, mas abracemo-los em nossas orações e envolvamo-los em vibrações de amor, pois somente assim conseguiremos nos libertar não deles, mas de nós; de nossa incapacidade temporária de compreender e desculpar.

Esses nossos companheiros que vagueiam pelo mundo esperam que sejamos uma seta a lhes guiar, tirando-os das encruzilhadas de conturbação do sombrio plano no qual se encontram. Se eles agem com rancor é porque lhes fizeram algo que os maceraram, ou eles interpretaram como tal.

Quando perdoamos, transferimos essa atitude à todos que fazem parte de nosso círculo e impedimos que nossa ira se expanda. Somente o perdão é capaz de esclarecer nossos irmãos que guardam rancores de nós e de nos libertar, quando conservamos dentro de nós muitas amarguras. Quando compreendermos isso, deixaremos de lado todos os ressentimentos e seremos a estação terminal do mal, não o passando à frente e nem o revidando.

O perdão é aquele gesto que toca os mais ressentidos corações e nos oferece uma nova página no livro da vida. É óbvio que perdoar não significa eximir, pois o que fizemos de prejudicial gerou conseqüências, e teremos que compensar de alguma forma, mas ele representa um grande passo àquele que o concede.

Bem aventurado é aquele que sorri com pureza, que perdoa, que chora em vez de fazer chorar, que ama em vez de esperar ser amado, e faz de cada ato seu uma extensão do Evangelho do terno e eterno Rabi da Galileia.