Outro salvador morre calado (Rio São Francisco)

Ele escolheu nascer no mais singelo espaço geográfico, em solo estrangeiro.

Entre bichinhos silvestres, folhas e fezes de animais.

Sua missão, salvar vidas por onde passasse, entre cidades, povoados, montanhas e vales.

Aos que tinham sede, dava de beber, aos que tinham fome dava de comer.

A suavidade em sua voz instruía seus seguidores, navegantes, pescadores, ribeirinhos.

Seu nascimento pobre fez muitos acreditarem que era possível sobreviver ao seu exemplo,

Como um rei que nasceu no deserto, foi invejado, escarnecido, profanado e cuspido.

Do seu poder e da sua virtude foi possível brotar salvação, te amaram.

Das mãos dos que dizia te amar veio a estupidez e sua condenação.

Condenado a morrer, não tinha por determinação morrer para salvar ninguém.

Calado seguiu seu destino, como que por amor ao silêncio.

Aceitando o desafio de apanhar, ao mesmo tempo em que perdia suas forças.

No leito da morte, seu olhar ainda promete esperança, renascimento, vontade.

Sua ressurreição é uma dádiva que vem do alto, uma vontade que vem do céu.

O retrato de um grande Rei, que despojou de suas vestimentas, rasgadas e queimadas,

Calado, viu seus últimos suspiros desaparecer na poeira. Na escuridão do homem.

A foice, a chibata mortífera que sugou o precioso líquido, guarda o bolso do homem mal.

O Rio São Francisco está morrendo! A sua ressurreição não está garantida.

Jota Nascimento
Enviado por Jota Nascimento em 12/11/2014
Reeditado em 12/11/2014
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