Falando sobre pessoas

Uma das coisas mais difíceis do ser humano é falar sobre pessoas, normalmente estamos falando delas, ou melhor, qualificando-as, quando sabemos que qualidades geralmente não discutimos mas as sujeitamos pelas desqualificações, fato de extrema importância quando sabemos que nossa opinião nem sempre pode ser verdadeira, dada a hipótese que podemos ter uma visão teórica sobre o outro fundamentada por outros, e, não por nossa própria convivência, olhar o outro nas suas atitudes, ou procurar as verdades escondidas não é o forte do ser humano, cabeça e coração não pensam iguais e as vezes nem juntos, quando se fala sobre pessoas, geralmente procuramos em filósofos e especialistas uma resposta sobre dúvidas que carregamos até sobre nós mesmos, pois nossa solidão contemporânea nos faz duvidar de nossas próprias qualidades, por isso talvez somos adeptos das redes sociais mais do que das reuniões onde a percepção é mais forte, onde não somos apenas o que postamos ou o status que copiamos.

Ouvi certa vez um palestrante falando que acreditava na hipótese de ataque zumbis, personagens de filmes de terror, mortos vivos com fome de cérebro, quem sabe já vivemos na época em que as pessoas sentem esse desejo por não ter mais o vínculo do encontro, e quando ele existe, parece que a fome de um cérebro pensante, torna as pessoas escravas do tecnológico, afastando-as do princípio do ser humano que ele não vive em uma ilha, porém se isola em si, rodeado de outros isolados, e cada um com seus relacionamentos invisíveis, ou quem sabe nossa infância nos voltou e nosso amigo imaginário que a muito não falava conosco, ou nunca falou, agora nos tira da realidade, nos coloca no surreal imaginário, sem ofensas, nos tornamos zumbis alimentados por cérebros artificiais.

Shakespeare, em a tragédia de Hamlet, utiliza-se da frase celebre, SER OU NÃO SER, em relação as pessoas, ser é algo que normalmente só utilizamos para demostrar o quanto somos importantes nas qualidades, pessoas não se desqualificam, não possuem defeitos, são mais inteligentes do que geralmente percebemos, mas, perceba que é o que elas dizem que são, e sabemos que nem sempre, tudo o que dizemos ser, somos realmente, nossos defeitos não discutimos em público, não falamos, procuramos não ser imperfeito, será que nossa imperfeição não seria justamente a negação das imperfeições que juramos não ter.

Talvez o medo do poeta seria mostrar a sua perfeição, por isso suas rimas falam da imperfeição do amor, da saudade, da dor, da alegria, porém poetas filósofos são poucos e na maioria das vezes são rotulados de pessoas apaixonadas, se existir alguém que não seja apaixonado por alguém ou alguma coisa, acredito que ai sim não existe poesia, neste ser encontraremos o vazio, o não pensar, o não sentir, pessoas mesmo frias ainda carregam a essência de ser, de buscar algo, porém a frieza pode ser um caminho no qual é difícil de se explicar, não há uma resposta, e por não existir resposta um diagnóstico pode ser perigoso pois rodeia a ilegitimidade da verdade sobre o ser, a pessoa e seus sentimentos, SER OU NÃO SER, pode parecer que não faça muito sentido, mas a injustiça vomitada pelas palavras vãs sobre pessoas, nos torna mais frios do que as pessoas pelo qual falamos de sua frieza.

Não teremos uma explicação lógica do porque as pessoas são como são, se não procurarmos a resposta do que eu sou como sou, se eu sou como sou, poderia afirmar que não posso mudar, e se eu com discursos sobre a posição do outro e como ele deveria ser, se eu sou como sou e não aceito que a mudança faz parte da resiliência pela qual estou sujeito, se adequar as situações, as adversidades, sem perder as raízes nem os princípios, uma pessoa que aceita que ela é o que é, é uma pessoa que ainda não se descobriu que o ambiente pode mudar, que as palavras podem inverter os sentimentos, que uma atitude pode mudar opiniões, deveríamos pensar que podemos ser muito mais do somos, que ser apenas o que é, é pouco pra quem tem ambição, ambição essa que verdadeiramente nos faria ter algo recompensável, não ambição material, se cairmos nessa armadilha corremos o risco de nos tornarmos frios, individualistas, sem sentimentos.

Ambição virou uma armadilha perigosa, antigamente chamávamos a ambição de hoje de individualismo, de ignorância, a ambição verdadeira não procura derrubar ninguém, não é mesquinha, aproveita as oportunidades, mas não as faz acontecer através de atitudes que possam diminuir, ou ainda fazer as pessoas se digladiarem para no final eu aproveitar a oportunidade que através de minhas atitudes vãs, derrubando, desmoralizando e até desprofissionalizando assumo apenas o titulo que eu almejo, muitas vezes sem sequer saber quais são minhas responsabilidades, isso não é só uma questão empresarial, SER OU NÃO SER AMBICIOSO, está em todas os níveis sociais.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 07/05/2016
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