A poesia e eu...

Agora que sou feito de sol, areia e ausência. Me resta o nunca e o nada a derramar-se sobre a minha cama. Não tenho direito a escolher uma só lembrança e louvar neste templo as escuras, mesmo assim

terei que escolher um nome, uma imagem, uma banda sonora, terei que traçar uma linha que comece e termine no infinito. As dobras dos dias manchadas de cerejas. Só sei que não é época de palácios, de Aviões, comboios, de pesquisar o gosto do toque das tuas mãos. Este ar que alimenta minha respiração se nua a entrelaços de luz no meu corpo. Os pássaros são de vidro e não encontram azul

sobre as suas asas. O céu que brota na página em branco não pertence a ninguém. No entanto tento voar, eu, com meus dedos por cima de cada letra, embora não saiba se encontrarei uma palavra que sustente todo este vazio. Agora curtir uma estrela aos tornozelos, sob a janela do carro e respiro o cheiro de sal, agora mudança de marcha e não sei se sujeito o papel ou a alma. Agora só restam dois: A poesia e eu...

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 01/11/2016
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