LIBERDADE DE LOCOMOÇAO

Tenho um encontro com um mundo diferente toda vez que chego ali. Um retrato cruel do submundo da consciência humana. Seres que cometeram um grande erro, ao qual a sociedade denominou de "crime". Seres, que escravos de uma concepção distorcida, encontram-se agora presos em celas insalubres, responsáveis pelo cerceamento da liberdade de locomoção. Ali, onde a sociedade mantêm isolada a sua escória, como um depósito de lixo, homens livres, mas também limitados, convivem com homens presos, marginalizados.

A minha função é evitar a fuga da prisão física, chamada cadeia. Contudo, quem dera me fosse concedido libertar a todos da prisão de suas mentes. Dessa tenebrosa prisão que acomete a todos aos seus grilhões e transforma um jovem vigoroso num adulto hipocondríaco. Que confunde a humanidade inteira e gera o caos. E que, acima de tudo, não deixa que o homem desfrute de suas potencialidades infinitas.

Quando os vejo ali, vítimas de seus próprios costumes, prisioneiros em dose dupla, fico imaginando o que os separa do contigente livre. Coloco-me no lugar de cada um deles e por vezes,encontro-me preso também. Chego a conclusão de que a tênue linha divisória está na amplitude do livre-arbítrio. Em algum momento, eles decidiram e cometeram o erro não aceito pela sociedade. Eu, em algum momento, decidi e cometi o erro aceito pela massa. Assim, continuo preso, mas mantenho minha liberdade de locomoção.