Paradoxo da Existência

Aquele garoto lépido que corria pelas ruas totalmente liberto, perdeu o papel de protagonista para o adulto claudicante que caminha pelas estradas hostis completamente preso ao destino. E o pior: tenho a sensação de que nada que eu fizesse mudaria a situação atual. Pois é este o preço pago pela vida. Queres viver, então morra.

Morra aos poucos. Perca primeiro a vivacidade, em seguida a espontaneidade e depois, quando adquirir ao longo do tempo o conhecimento, entregue as últimas energias em elucubrações à respeito da vida que nada mais fazem do que confinar a alma para despojá-la de sua essência. E então, quando nada mais lhe restar, comece a viver.

Isto é a vida. É perder tudo que se tem para garantir um lugar entre os "vivos". Aquele que trabalha incansavelmente, sem tempo para a família, sem lazer e com o único intuito de enriquecer. Este morre aos poucos, mas "vive". Perde tudo que tem para viver.

E se escolhe o percurso oposto, trabalhar pouco ou nada, divertir-se sempre, não se preocupar com riqueza, enfim; viver intensamente, sem perder nada. Então, vive, mas em meio aos "vivos" está morto.

Mas, o que existe entre a vida e a morte? Eis o caminho do meio, o perfeito equilíbrio. É esta a saída apresentada pelas religiões e pelos grandes mestres. Consiste em conhecer-se a si próprio a ponto de viver sem perder nada de si. É o que tenho perseguido incessantemente. Porém, sempre que transponho um obstáculo, outros milhares se apresentam e estou sempre no meio do trajeto à procura do verdadeiro caminho.

Aquele garoto lépido do fundo do meu ser clama e é asperamente repreendido pelo adulto claudicante. E mais um dia se passa e preciso viver, então, morro. Nestas inúmeras mortes e renascimentos, construo a minha existência. Por mais que eu queira não ser, eu sou. Por mais que eu queira morrer, eu vivo.