Distância Entre os Ideais e as Ações

Ontem conheci o povoado Alto dos Maricotas. Este foi o terceiro em que conversamos com a comunidade. A vida apresenta detalhes não muito perceptíveis, talvez esteja até romanceando o que na verdade é apenas uma verdade crua, mas o fato é que há coisas interessantes sobre a vida nos povoados. São praticamente uma família, uma clã, um genos. As relações humanas são destacas em detrimento dos cargos. Estes últimos são atropelados pelas relações de proximidade da comunidade. Isso porque são pessoas que convivem desde a infância, e porque freqüentam a vida uma das outras. É o mesmo processo que se verifica em cidades do interior, só que em um grau mais intenso. Provavelmente a consciência de uma descendência próxima seja o ingrediente dessa relação, e neste sentido explicaria um pouco do fenômeno que ocorre em Brasília, onde a população não possui o passado em Comum. No povoado, convenci a professora Dulcicléa fazer depoimento formal. Nascida em 1987. 20 anos de idade e já carrega o peso de ser a referência das crianças do povoado, esbarrando no descaso e na corrupção de quadrilhas do cangaço público no Brasil, reflexo da apropriação do público para fins pessoais. Também a merendeira e a atendente do posto de saúde, todas membro da comunidade onde a unidade de referencia é ser "pessoas que são determinadas ações", e não as que exercem determinado cargo. Diante dessas visitas em povoados e do contato tão próximo com estas comunidades fica bastante claro a imensidão de nossos orgulho e egoísmo, no tocante a preocupação individual que permeia nosso cotidiano. As prioridades que ocupam nossos pensamento e atitudes giram em torno de nossa formação, nosso emprego, nossos conhecimentos, nossa conta bancária, nossa aparência, nossa vida amorosa, nossos filhos, nossa família, enfim tudo aquilo que tem relação direta com nossa pessoa. Prioridades que ocupam parcela quase integral de nossos esforços, de sorte que pouco se sobra para ações e pensamentos que visem a unidade humana como referencia. Senti um frio na barriga, e bebi um pouco da água que pessoas como Guevara, Chico Xavier, Cristo, Buda e outros missionários e voluntários bebem, no sentido de viver pelo ser humano. Viver pelas crianças e não pelos seus filhos. Viver pelos idosos e não pelos próprios avós. Viver pelos precisados e não pelos próprios amigos. A linha de referências, amigos, familiares, terra de origem perdem importância em meio a esta experiência. Volto a bater na tela da necessidade de se viver o que se acredita, diminuir cada vez mais a distância entre as ações e os ideais.

19.07.2007

KukaRafa
Enviado por KukaRafa em 24/10/2007
Reeditado em 26/10/2007
Código do texto: T708093