Homilia na Ordenação Sacerdotal de José Danilo

Homilia na Ordenação Sacerdotal de José Danilo

Formosa, 12 de fevereiro de 2022

Diletos irmãos e irmãs,

“Tu és sacerdote eternamente segundo a Ordem de Melquisedec”!

Congregamos nesta manhã no altar de nossa igreja mãe, a Catedral Diocesana, para celebrarmos piedosamente a Divina Liturgia Eucarística, ocasião que será ordenado presbítero nosso diácono José Danilo Ferreira dos Santos. A ordenação de um sacerdote é algo grandioso que sobressalta aos nossos olhos, pois o sacerdote é alguém que ostenta em si algo invisível, misterioso e sobrenatural: sua configuração a Cristo, nosso Senhor. A ordenação de um padre é uma bordoada no inferno, dado que a missão do padre é uma afronta aos intentos de satanás. A missão do sacerdote é espiritual, metafísica e ontologicamente contra as trevas deste mundo, contra o demônio e seu reino. Por isso o padre é tentado diuturnamente a cair sob o império dos sentidos.

O sacerdote é chamado para esse combate espiritual, cada vez mais acentuado em nosso tempo, tão ofuscado e obnubilado pelas maldades do relativismo, do hedonismo e da ideologias materialistas. O padre de fé que abraça o ministério com um olhar para além das sombras que envolve esse mundo, realiza a vontade de Deus e se torna Cristo para os homens e esperança para essa sociedade adoecida por ter abandonado a Deus e a seu Cristo. Para tanto, o sacerdote precisa ser sadio no seu ser sacerdotal. A infelicidade de um padre começa a partir da sua vida dúbia e ausente de piedade e amor ao Reino e às almas.

A grandeza da missão sacerdotal, sem nenhuma equivalência neste mundo, nos assusta, pois é puro amor. É um véu de grandeza sobrenatural que nos impacta e desconcerta. Quando o Profeta Jeremias foi chamado por Deus, como ouvimos na primeira leitura de hoje, teve essa mesma sensação: susto, medo, sentimento de impotência e insignificância. “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo”. Mas o próprio Deus o acalenta, como a todos nós, fazendo-nos conscientes que devemos mediar sua força amorosa no coração desse mundo através da sua santa Igreja. O sacerdote é tido como um embaixador de Deus nesse mundo, onde cuida das coisas de Deus e do céu.

Em nosso tempo, mais do que nunca, o mundo necessita do sacerdote. O povo busca o sacerdote como a única alça de cipó nesse grande lago do vazio de incertezas onde pode-se agarrar e buscar a segurança para não se afogar. Assusta-nos saber que, como padres, temos que ser maiores do que nós mesmos para apontar o caminho para nossa gente sair desse atoleiro no qual a humanidade está presa.

Somos maiores do que nós mesmos pela assistência da Graça Divina que nos fortalece e nos unge com palavras inesperadas e amáveis, carregadas de esperança. Por nós mesmos não somos nada, mas com o auxílio da Graça podemos ir além do que conhecemos, pois Cristo age na vida do sacerdote que age n´Ele e por Ele. Mesmo sendo conscientes que humanamente somos vasos frágeis de argila, sabemos que ostentamos em nós as preciosidades do bom odor de Cristo. No Santo Evangelho Jesus nos consola e nos faz ver que fomos escolhidos por Ele não para estarmos fora do mundo, mas para fecundar esse mundo com a luz da verdade e do real sentido para a vida. O padre é configurado a Cristo e age n´Ele e por Ele através do ministério indelével, jamais compreendido na sua total expressão e profundidade. Mesmo resvistido de tão forte couraça, o padre é um homem de carne e osso que necessita de oração, apoio, cuidado e zelo para superar a si mesmo, rezar bem com as pessoas, apoia-las necessariamente, cuidar das inúmeras ovelhas carentes de amor e de luz divina, bem como zelar das crianças e dos adolescentes na seu crescimento na fé sem perder a pureza, bem como dos jovens para não se escorregarem na lama da malícia.

O Apostolo Paulo na epistola aos Efésios, proclamada nesta liturgia, nos incita a viver no interior da Igreja “com toda humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados”. Um belo caminho para a vida de todos nós sacerdotes, religiosos, seminaristas e fiéis. Como Santa Terezinha devemos dizer sempre: “no coração da Igreja descobri minha vocação: serei o amor”. A prática do amor sem medidas da parte de todos, sobremaneira dos sacerdotes, faz a Igreja crescer e fecundar esse mundo com o sal, a luz, a verdade e a necessária volta a Deus. Esse amor em plenitude no coração do padre o faz sempre integrado com Deus, consigo, com seus irmãos sacerdotes, no presbitério e com seu povo. Essa comunhão oblativa e sem medidas dará o real sentido e a cura permanente ao coração do sacerdote, impedindo-o de se desviar do seu caminho e até mesmo de destruir sua própria vida. O isolamento social dos padres é um caminho que aponta para grandes desastres existenciais e espirituais.

Caro Diácono José Danilo, em poucos minutos, neo-sacerdote, nunca se feche no seu mundo pessoal e jamais se isole dos seus irmãos sacerdotes, do seu bispo, dos religiosos, dos seminaristas e de da comunidade dos fiés. Tenha sempre presente que nossa satisfação em Deus passa pela experiência de sermos no caminho do Reino “um só coração e uma só alma”.

Um padre feliz e integrado no seu ministério, a exemplo de Cristo, em profunda castidade, pobreza e obediência tornar-se-á um grande atrativo para tantos jovens que desejam seguir a Cristo e precisa de de um exemplo de padre integrado e probo na sua comunidade paroquial com seu povo como doador de si e dos dons de Cristo. Padres que servem ao mundo cantando músicas mundanas e se exibindo pelas TVs e mídias sociais como homens do século, dados aos vícios e em trajes deploráveis, comportando-se como qualquer homem pagão, jamais será sinal de Cristo para os jovens que nos nossos tempos querem padres conservadores, piedosos, espirituais, autênticos e santos.

As coisas do mundo nunca devem encontrar lugar de satisfação no coração de um padre que pensa no céu, na salvação de seu povo e no dia do seu juízo particular. O tempo urge e passa, com ele também passamos, assim deve pregar o padre ao seu povo e ser ele mesmo um agente da esperança na salvação eterna, que todos os dias termina suas atividades com o exame de consciência e o “nunc dimitis”, suplicando a Deus uma morte santa no final de seu “transitus” neste mundo.

Como um pobre bispo, cheio de limitações e pecados, apresento ao novo sacerdote, aos diáconos, aos sacerdotes, aos religiosos e seminaristas, bem como a todo o povo de Deus uma inquietação: do jeito que as coisas anda, com essa deprimente realidade imposta pela Nova Ordem Mundial e pelo contexto sanitário do momento, como estára nossa Igreja Diocesana daqui a 30 anos? O que fazer com a falta de vocações para o sacerdócio que começa a crescer entre nós?

Segundo o Papa Emérito, em resumo: os padres viverem bem o seu sacerdócio, convidar para a oração segura de intercessão suplicando a Deus pelas vocações e, por último, termos coragem de falarmos sobre a vocação com os jovens e criarmos ambientes valorosos para a vivencia da fé, onde sobressai a beleza da fé, nos quais sobressai também modelos de vida que suscitam o desejo de servir no ministério sacerdotal.

Somente Cristo é nossa resposta, sem ele não há sentido para os dramas humanos atuais e muito menos para a compreensão da finalidade da Igreja neste mundo. Neste contexto exigente que estamos vivendo, imperiosa é a renovação da nossa adesão a Cristo, na força do seu Espírito, para empreendermos uma Nova Evangelização no seio de uma realidade reconfigurada pelas forças centrífugas do neo paganismos da Nova Ordem. A batalha será intéprida e exigirá de nós a força interior do empenho dos antigos Templários: “Non nobis Domine, no nobis sed nomini Tuo ad Gloriam” - “Não a nós, ó Senhor, não a nós, mas ao teu nome dai a glória” (Salmo 113,9).

O sacerdote católico existe para dar glória a Deus e testemunhar seu amor a cada dia. Que nosso neo sacerdote seja sempre assistido pela Graça Divina durante sua vida, servindo com fidelidade a Cristo e sua Igreja sob o manto amoroso e consolador da Imaculada Conceição, nossa excelsa Padroeira, amém!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 12/02/2022
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