TEATRO DE LOUCOS

“To be or not to be, that’s the question”. Usarei esta frase de Shakespeare, que foi um apaixonado pelo teatro e conseguiu retratar muito bem em seus personagens as crises e conflitos do ser para tentar analisar a crise do homem moderno. E questionar porque apenas ser ou não ser, e porque não ser ou estar, ou não estar e não ser, eis a questão? A crise do homem não se resume a sua essência, mas também ao fato de pertencer a algum lugar e “estar” de alguma forma, o que lhe dá a chance de mudar, modificar. O homem vive em constante transformação e está longe de ser um “ser” acabado, mas que deve estar disposto a praticar mudanças e, em alguns aspectos, até regrediu ao longo dos tempos.

O fato é que desde a Idade Média, os indivíduos (termo criado apenas no séc. XVII) encenam seu status. Mas, pelo menos eles tinham definido o lugar ao qual pertenciam. Essa idéia de pertencer que, na contemporaneidade, se dilui, é causada principalmente pelos meios de comunicação de massa, e faz com que, muitas vezes, os indivíduos se distanciem-se de seu contexto espaço-temporal, e isso aliado a falta de informação, acaba se tornando um ponto chave desta crise, na qual, não ocorre apenas a encenação de um realidade, como também a alienação desse indivíduo, no sentido de fazer representar-se por terceiros, o que agrava esse quadro.

Meu conceito de representação, principalmente me embasando nas artes cênicas é outro, não se resume ao simples fato de encenar, e sim, essa arte é o estudo da natureza criadora, como diria Constantin Stanislavski, “pois um papel, mais do que ação na vida real, deve ser uma fusão das duas vidas – a da ação exterior e da ação interior – num esforço mútuo que visa alcançar um determinado objetivo.” ( P.3, Manual do Ator).

Na contemporaneidade esta ação se dá puramente para o benefício do plano material, e sem um esforço analítico, o que no meu entender, é gerado por um desejo de “ser” mais, mas a condição do “ser” acabada, conformada. E a esse teatro de loucos eu não quero pertencer.

Soane Guerreiro
Enviado por Soane Guerreiro em 26/04/2008
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