Dois enamorados numa noite de verão

Sonho de uma noite de Verão

Meu olhar vagueava no horizonte, meus olhos perdidos ao longo da Marginal, fixavam no infinito as ondas que se desfaziam contra o paredão. Sua espuma lembrava-me o algodão doce que antes tinha saboreado. Seu som, o grito de paixão que perdurava no meu coração…Seu aroma, hummmmmmmm, seu aroma, transportava-me para perto de um anjo que muito longe me esperava…

Pendurada ao pescoço, a minha companheira de longas e divertidas borgas, balançava, dançando contra minha anca, num movimento sensual e provocatório.

Parei, enchi meu peito, saboreei o momento, olhei para as estrelas dançando, tornando mais lindo todo este quadro maravilhoso, edílico mesmo, e sentei-me no paredão.

Fecho os olhos, retendo tudo á minha volta, inspiro profundamente o perfume do mar, paixão que perdurava no meu coração.

Afago a minha viola e, como uma mulher apaixonada, ela deixa-se envolver, sentindo meu abraço seguro e meigo, acaricio-a , sinto-a, e com paixão que transborda do meu peito dedilho-a, fazendo saltar notas calmas, serenas, harmoniosas. Ela corresponde, deixando que meus dedos a percorram na sua totalidade, lhe arranquem notas cada vez mais intensas, sintam sua alma, sua total existência.

Como que por magia, sinto por detrás de mim uma presença, meu coração pula sem motivo aparente, meus olhos continuam fechados, minha alma deseja que pressentimento seja real…

Algo me diz que és tu …

Retendo a respiração, viro lentamente a cabeça, num misto de nervosismo e ansiedade, os olhos, esses estão brilhantes, procurando a presença do teu corpo.

As mãos, antes quentes e seguras, tremem, tal como meu corpo se agita ao mesmo tempo que sinto um frio percorrer as minhas costas..

Perto de mim, olhando fixamente estavas tu, linda, sorridente, calma como brisa quente que do mar soprava. Teu olhar terno e meigo, sorria para mim, assim como tua linda boca, mostrava um sorriso aberto, perfeito, envolvente.

O teu corpo fazia-me lembrar uma deusa grega ou uma estátua de Leonardo, o teu vestido branco caía suavemente pela tua pele, deixando na contra luz, adivinhar tua forma escultural, teu corpo de mulher. Meu coração, batia ferozmente dentro do meu peito, sinto a minha boca secar, um nó na garganta se levanta, e os meus olhos teimosamente ficam húmidos, deixando rebolar duas lágrimas rebeldes que lentamente percorrem a minha cara.

És tu, o meu sonho de verão, vem sonhar comigo!

Alma Lusíada

Sonho numa noite de verão II

O relógio vai pontuando a distância, cronometrando o tempo q me afasta de ti, mas a saudade é tanta; que rouba minha alma na sanidade louca dos poetas que amam; atravesso a madrugada transpondo oceanos...Com vestido branco solto no corpo e ao vento, pés descalços traçando passos numa viagem etérea ...Ela me guia, tal qual criança puxada pelas mãos de mãe zelosa ao teu enconto. E te encontro ali...Olhando o horizonte, observando ondas gigantescas esfarelando-se no paredão, cruel limite imposto a liberdade das águas.

O cheiro de jasmim se mistura ao cheiro da maresia e as alvas espumas brincam de borbulhar lá embaixo.

Do alto, sentado, abraçado à viola de tantas horas de alegria e agonia, dedilhas uma canção.

E me vejo ali, me sinto ali, feito viola, corpo mulher...Deixo-me envolver por mãos tão calorosas, me entrego no abraço, sou cordas a vibrar quando sinto o toque dos teus dedos numa procura louca do meu tom no ritmo cadenciado do prazer de estar ali, compartilhando a sofreguidão da espera...Olhando aquela cena de uma certa distância, o peito ofega, a respiração te desperta daquele momento mágico de me ter tal como eu fui poucos instantes atrás....Viola corpo mulher...Um anjo.

Minha presença, percebida...

Abra os olhos, amado meu, sou real, tua saudade louca me trouxe aqui...Vim para aquecer esse corpo que treme de frio.

Dê-me sua mão...Vem, percebe nos olhos meigos que te fitam a intensidade de tudo que sinto, não perca os sinais que os olhos serelepes da menina revelarão da mulher que te anseia...Porque vim para amparar essas lágrimas num beijo.

Abraça-me forte, porque sem ti sou prisioneira da vida e não quero acordar.

Vânia Moraes

Vânia Moraes
Enviado por Vânia Moraes em 19/04/2006
Reeditado em 19/04/2006
Código do texto: T141615