AO LONGO DO RIO
Entrelace
Guida Linhares e Eugénio de Sá

G
Vago ao lado de um rio

cujas correntezas

carregam as minhas tristezas


E
vogo contigo, a teu lado

procurando dar-te a mão

salvar-te dessa aflição


G
Penso na vida

cujos caminhos percorridos

às vezes nem fizeram sentidos


E
sentidos que não sabemos

se têm razão de ser

ou sabemos e omitimos recusando entender


G
Vejo as pedras

que em seus contornos revelam

as asperezas que me desesperam


E
mas a água corre doce

vai burilando as asperezas

deixa-as limpas de incertezas


G
Olho as árvores

cujas folhas se enlaçam

entre os galhos que se abraçam


E
visão que em afagos move

o entrelaçar de vidas

esquecendo causas perdidas


G
Encontro singelas flores

a encantar meus olhos

já em lágrimas de Abrolhos


E
florescem no coração

lilases e flores mimosas

e a mágoa parte levada p'las pétalas das rosas


G
Sinto meu coração

silente a buscar o afeto

por entre pedras e flores direto


E
é o orgãozinho que bate

na procura da doçura

certo da sua razão: água mole em pedra dura...


G
Então chegastes

sutilmente de mansinho

a querer me livrar do espinho


E
Com a brandura do impulso

que foi ditado p'la vida

E deste lado do mar gritou a palavra: querida


G
Olhei teus olhos

senti tanta ternura

preencheu minh´alma de ventura


E
tanta ternura senti

nas linhas palavras que chegaram

que o coração respondeu e os carinhos brotaram


G
Tu me destes a mão

e percorremos todo o rio

sempre nos abrigando do frio


E
quem podes sentir tremuras

do frio que a água nos traz

se o amor nela fluta com sentimentos de paz


G
E agora sentados

nesta margem florida

estamos a repensar a vida


E
Nas margens verdes e lindas

deste rio que percorremos

vogamos leves no amor nem precisamos de remos


G
Temos como testemunha

a bela floração do ypê amarelo

primeiro alicerce do nosso castelo


Guida Linhares
Santos/SP/Brasil

Eugénio de Sá
Lisboa/Portugal

18 de junho de 2006