Soneto para um príncipe distante - Lizete Abrahão * Soneto para Sherazade - J.A. de Carvalho
Soneto para um príncipe distante.
Lizete Abrahão
Da minha boca foge um grito de agonia...
Acordo do meu sono, não quero miragens
Que um sonho foi buscar além de outras paragens,
Pensando que da tua sede me sacia...
No lago dos delírios, mora esta espera
Das noites plenas de sussurros que vivi.
Ser um ocaso, um pôr-me-sol, mas em ti,
Depois dos teus abraços, ai! bem eu quisera!
Disseste: "Tua boca sabe a mel e vinho,
Que bebo qual em taça sorvo ambrosia!"
Manjares do meu corpo são minha poesia,
Que nestes versos te ofereço em desalinho.
Silêncio! Dorme um sonho que não quer auroras...
Teu grito tão distante acorda minhas horas!
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Soneto para Sherazade
José-Augusto de Carvalho
O grito que ressoa acorda o sonho antigo
As crinas dos corcéis ondulam anelantes
Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo
Os teus apelos de alma e coração distantes
No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes
Em ti o lago pleno, ocaso de afluentes
Depois de ti não pode haver mais horizontes
Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes
Escondes sob o véu os lábios purpurinos
Sedentos de áurea lava em tragos de ambrosia
Prometes no teu ventre anseios levantinos
Gemidos de luar de cálida estesia
Teu grito no meu grito, o grito definido
Aurora recusando o tempo interrompido
abril/2006