Soneto para um príncipe distante - Lizete Abrahão * Soneto para Sherazade - J.A. de Carvalho

Soneto para um príncipe distante.

Lizete Abrahão

Da minha boca foge um grito de agonia...

Acordo do meu sono, não quero miragens

Que um sonho foi buscar além de outras paragens,

Pensando que da tua sede me sacia...

No lago dos delírios, mora esta espera

Das noites plenas de sussurros que vivi.

Ser um ocaso, um pôr-me-sol, mas em ti,

Depois dos teus abraços, ai! bem eu quisera!

Disseste: "Tua boca sabe a mel e vinho,

Que bebo qual em taça sorvo ambrosia!"

Manjares do meu corpo são minha poesia,

Que nestes versos te ofereço em desalinho.

Silêncio! Dorme um sonho que não quer auroras...

Teu grito tão distante acorda minhas horas!

*******

Soneto para Sherazade

José-Augusto de Carvalho

O grito que ressoa acorda o sonho antigo

As crinas dos corcéis ondulam anelantes

Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo

Os teus apelos de alma e coração distantes

No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes

Em ti o lago pleno, ocaso de afluentes

Depois de ti não pode haver mais horizontes

Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes

Escondes sob o véu os lábios purpurinos

Sedentos de áurea lava em tragos de ambrosia

Prometes no teu ventre anseios levantinos

Gemidos de luar de cálida estesia

Teu grito no meu grito, o grito definido

Aurora recusando o tempo interrompido

abril/2006