QUE COLHEITA, HEIN?...

Que barganha foi essa?

Nem sei como embarquei nessa!

Troquei uma dor antiga

Que ardia como urtiga

Por outra mais recente

A incomodar a mente

Um coração passivo

Por vezes persuasivo

Por outro mais carente

Pra lá de indolente

Um sonho adormecido

Que ao acordar virou pesadelo

Inquieto e delirante

Com contornos alucinantes

Foi uma ilusão perdida

Nas brumas da fantasia

Sentimento tão cortante

Que me põe demente

Antes era a paixão,

Depois a ilusão de algo que se diluiu

Como borbulha no ar sumiu

Agora é a dor viva, vívida, lacerante

Desorientado do nascer ao poente

Ressinto-me da dor do amor ausente

Não sei como domar estes momentos

Ressinto-me da distância incoerente

Levanto a bandeira branca

E peço clemência e paz

Porque nada me satisfaz

Mas, não ouves, não, falas, não vês

Sinto até vergonha

Que barganha boba

Por tanta coisa medonha

Troquei seis por meia dúzia

Não! Já decidi

Como sou bom aprendiz

Não serei mais infeliz

Não te verei nunca mais

Nem te chamarei jamais

Nem por um segundo

Nem que dês a volta ao mundo

Quero o silêncio pleno, não o caos

Mas o que me dói ainda

É esta mudez escandalosa

Mesmo depois das rebordosas

Entre nós, só um hiato,

Um abismo tão profundo

Troquei o dito pelo não dito

Sem nem aviso

Mas foi preciso

Abusei dos improvisos

Deu pena! Era tão bonito

Era teu cativo em devoção

E então, excluí teu perfil do coração

Nem me peça para lhe dar uma mão

Em um clique te apaguei

Sem compaixão

Desatei todo cordão

Mas o silêncio maldito

Escondeu o teu delito

Foi por isso que chorei

Por tudo eu me decepcionei

Debulhada em sal sem Sol

Dou agora tempo ao tempo

Só lamento

As saudades dos bons momentos

Dos afetos e dos intensos sentimentos

Deixo a ti a conta a pagar pelo prejuízo

Sei que isso eu não plantei

A colheita não é minha

Com doçura de menino

Tudo que fiz foi te amar

Da minha parte,

Cansei!

Só temo pelo teu futuro

Que sei será obscuro

Existe uma lei divina

Que é mais que uma sina

Preparou a terra, adubou

Depois a discórdia semeou

E quem plantou, vai ceifar

A colheita?! É só esperar...

Dueto: Lourdes Ramos e Hildebrando Menezes