EM ÁGUA-VIVA

Vivo, permanece este sentimento

Que intransigente reclama movimento

Igual à água fervente que me queima

De dentro pra fora e a tudo devora

É uma emoção que insiste e teima

Resiste e o corpo reclama em chamas

Invadindo-me a cada pensamento

Pasmo das contradições e tormentos

É água-viva, mas aquela que mata

A alma antes tão bela e completa

Não é água limpa, potável, cristalina

Mas fétida que escorre a céu aberto

É profana, poluída que a tudo contamina

Fecho as narinas para evitar o mau cheiro

Basta que eu olhe a lua cor de prata

Lágrimas escorrem pelo travesseiro

E que água é essa onde me afogo?

Sem oxigênio a pele em brasas feito fogo

Quero emergir e sufocar a saudade

Na angústia de tanta vil perversidade

Agora a sós, percebo toda a iniqüidade

Que me asfixia, domina e toma conta

Reajo aos cruéis ultrajes com mais amor

Neste mar-oceano de tanta impiedade

Como se ela quisesse acabar comigo

Quando sucumbi ao seu fogo amigo

Num instante soergo-me da dor pungente

Porque não haverá mal que sempre dure

Quando a alma grandiosa se faz presente.

Dueto: Lourdes Ramos e Hildebrando Menezes