TEMPO DE NÓS DOIS...

Houve um tempo, eu era menina

Achava que o tempo nunca passaria

E passou

E eu como menino franzino

Não vi o tempo passar

Na minha alegria de pequenino

Eu queria crescer muito depressa

Igual ao fogo subindo a campina

E cresci

Eu só pensava em brincar

Correr atrás da bola...

Nadar, caçar e pescar

Então, adolescente queria ser livre

Liberei-me

Mas depois de novo me prendi

Quando virei rapazote

Peguei a mochila

E caí no mundo

Queria alguém para chamar de meu

Amei

Só pensava na farra

Soltei as amarras lá em Curitiba

Fui morar em Salvador

E perpetuar-me em outro ser

Procriei

Meu negócio era aprender

E apreendi

Tudo tem seu tempo debaixo do céu

Pensei

O tempo ainda não era preocupação

Pois o que desejava era ação

Os dias não param de correr

A gente nem pára para pensar

E a vida acontece sem cessar

Vivi

E tudo acontecia sem nada prever

Trabalhava e estudava

Nas horas de folga ia pra praia

Quando dei por mim

O tempo era passado

Sofri

Cansado de tanto trabalhar

Mesmo já tendo concluído universidade

Resolvi de novo estudar...

Mas para o Senhor do Tempo isso é natural

Ao nos mandar tão fatal destino

Senti

Tranquei-me num Seminário

E fiz filosofia e teologia

Voltei a ser menino

E tentar reter o tempo

É total loucura

E isso nem mesmo o tempo cura

Conclui

Pois eu retive o tempo

Apesar dos contratempos

Neguei-me a crescer

O tempo de crescer passou

O tempo de seguir findou

O tempo de sonhar cessou

Daí

Sentia que vivia fora do tempo

Ao sabor do vento

Aproveitava cada momento

O que tivermos feito de nós mesmos

O que deixarmos que os outros nos façam

Nada disto levaremos

E sabe não me arrependo

Porque fui vivendo e aprendendo

Mesmo sofrendo as dores da solidão

Casei, tive duas filhas e já criadas... Separei

Fiz mestrado

E resolvi escrever

Somos iguais à relva do caminho

Passaremos

Sem noção palmilhava as estradas

Rumo ao desconhecido

O tempo corre tão rapidamente

E quando nos damos conta de repente

Ao olhar o espelho

Mesmo na rapidez do tempo

Não tentei segurá-lo

Vivendo o presente

Ou na revelação daquela foto

Constatamos que o tempo é passado

O que fomos e o que somos está mudado

E agora ao olhar meus retratos amarelados

Rebobino as doces lembranças do passado

Em nossa mente passa aquele filme

Como em um reply

Sim! Revejo o meu filme

E por vezes me atenho

No relance de um lance

Porém, nada se perderá realmente

E o que foi irá voltar a ser

Em outra criatura

O que de mim se foi...

Num instante

A mim retorna novamente

Em outro ser

Em mim, em ti

E já sendo outro momento

Mesmo assim...

Sou de novo um menino

Enfim

Deus se compraz de sua criação

E vai se repetindo para sempre

E a vida viverá indefinidamente...

E sinto com alegria

Que nada planejei

Foi Ele que me conduziu

Como uma garrafa jogada ao mar

Então, sorri!

Também guardo sorrisos...

Porque percebi que vivi!

Dueto: Lourdes Ramos e Hildebrando Menezes