Sangue imortal

Chaga, marca indecente, em alma inocente talhada

Memória de destruição tão cruel quanto amada

Engana o olvido oh vã lembrança

Oh, frágil resquício da demolida esperança

Quem te disse onde mirar? De onde veio a dica certa?

Teus olhos, de que século conhecem minha alma?

Quem guiou tua mão? Quem guiou tua seta?

Por que me atravessa, passa, e só leva a calma?

De onde tu és? De onde viestes?

Que nome tens tu? Que nome me destes?

Como me desnuda? Como me desperta?

Como me vê preso e só pela metade me liberta?

Questões... questões... porquês... por que?

Tuas perguntas, minhas respostas. Minhas perguntas, sem resposta

Do que chamas o que gostas? Que me dizes? Que me mostra?

Eu vejo, encantado vejo e encantado quero ter

Sem perguntar... sem questionar... vai ser inútil?! Do que falar?

Responda, não te cales. Teu silêncio é um abismo para onde pular

Atraído pelo fogo, tal qual mariposa

Voo até o incêndio que em ti repousa

Doçura alada, concedeu-me tuas asas

Fizestes chama do meu peito em brasa

Queimas-te tudo, demoliu a casa

Trouxera o mundo! Deixara escaras

Feridas profundas num diabético ser

Dor que em ti começa pra fim não ter

Dor augusta, excelentíssimo ópio de tão forte

Beleza em tua lâmina, tristeza em meu corte

Tal lâmina-chama, deixa marcas tão raras

Chaga dourada, que pedi sem saber

Fada encantada, labareda a me arder

Chama apagada na ausência do beijo

Reacende e se apaga, muda o que vejo

É belo e é forte, é vivo e é morte, és tu

É sangue corrente, em veia demente, é tocar-ilusão

É vermelho vibrante, céu galopante em azul

É punho fechado, unido, cerrado em azul

É tudo isso, tudo e mais, azuis fatais e meu querer vão

Ascendendo e apertando, movendo e riscando, tecendo um borrão

Tua alma tão nua, minha mão tão tua, teu não tão meu

O que assim se insinua? Lira plangente de Orfeu...

Fui aos astros levado por tuas asas demolidoras

Beijei as nuvens, pedi conforto aos céus

Pairei nas notas das nove musas encantadoras

Beijei as almas das nove virgens, tirei seus véus

E pelo inferno convocado, desci com as mãos ao céu estendidas

Lá vi todas as mágoas, lá vi todas as vidas

Senti queimar nas lâminas-chamas minha alma a tuas asas presa

E decidi manter-me incandescente a queimar... não importa o que aconteça!

Matheus Santos Rodrigues Silva & Eduardo F. Maskell